Texto consagra "avanços", segundo o discurso de Dilma; embaixador rebate países ricos. 'Quem exige ambição de ação e não põe dinheiro sobre a mesa está sendo incoerente", responde Luiz Alberto Figueiredo
A presidente Dilma Rousseff e vários integrantes de seu governo saíram ontem em defesa do documento final da Rio+20. "O texto aprovado consagra avanços importantes", disse a presidente, em seu discurso no primeiro dia da cúpula de chefes de Estado da Rio+20, ontem à tarde no Riocentro. Depois, citou conceitos que foram introduzidos na declaração, como erradicação da pobreza e igualdade racial.
Mas a própria presidente fez uma ressalva ao afirmar que "a crise financeira e as incertezas que pairam sobre o futuro da economia mundial" criam um ambiente no qual "a disposição para acordos vinculantes fica muito fragilizada".
Ou seja, o documento tem muitas intenções, só que poucos compromissos compulsórios dos países para a implementação do desenvolvimento sustentável.
Dilma fez as declarações durante discurso para a plenária de líderes e representantes de 193 países da ONU. Ela iniciou sua fala de 20 minutos às 16h34. Na plateia, estavam três ex-presidentes: Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello.
Metade do discurso foi para exaltar realizações de seu governo e de seu antecessor. Falou da ascensão de 40 milhões de pessoas à classe média, da redução do desmate da Amazônia e da criação de 18 milhões de empregos.
Ao listar esses feitos, Dilma sugeriu que o Brasil é um exemplo de que é possível "crescer, incluir e proteger" -as três palavras que, segundo ela, traduzem o desenvolvimento sustentável.
O embaixador Luiz Alberto Figueiredo, secretário-executivo da Comissão Nacional para a Rio+20, respondeu às críticas de que teria faltado arrojo ao acordo. "Não se pode exigir ambição de ação se não existe ambição de financiamento. Quem exige ambição de ação e não põe dinheiro sobre a mesa está sendo pelo menos incoerente", disse.
"Denominador comum"
A questão do financiamento foi uma das principais divergências da Rio+20. A proposta dos países emergentes de criar um fundo de US$ 30 bilhões anuais foi rejeitada pelos ricos.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, admitiu que houve dificuldade de chegar a um consenso, mas atribuiu isso ao grande número de interesses distintos. "Se juntarem 190 ONGs de diferentes países, as ONGs também terão dificuldade de encontrar um denominador comum."
Os ministros Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Aloizio Mercadante (Educação) destacaram os pontos que consideraram mais relevantes, como os acordos para a incluir critérios ambientais na avaliação de desempenho econômico; o comitê para a definição dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o compromisso de um novo tratado para os oceanos.
(Por Denise Luna, Denise Menchen e Fernando Rodrigues, Folha de S. Paulo, 21/06/2012)