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energia nuclear no Japão desastre de fukushima usinas nucleares
2012-06-20 | Rodrigo

Apesar da massiva oposição pública o Japão aprovou, no sábado, o reinício das atividades de dois reatores – os primeiros a serem religados após a crise de Fukushima.

O Primeiro Ministro Yoshihiko Noda, que está com a popularidade em baixa, apoia a reativação há algum tempo. Ele anunciou a decisão do governo em uma reunião com ministros-chave, dando permissão para os dois reatores operados pela Kansai Energia Elétrica, em Ohi, no oeste do Japão.  A decisão poderia abrir as portas para mais reativações entre os 50 reatores nucleares do Japão.

“Não existe perfeição quando se fala em prevenção de desastres”, declarou o Ministro do Comércio, Yukio Edano, em uma conferência de imprensa após o anúncio. “Mas, com base no que aprendemos com o acidente de Fukushima, as medidas que precisam ser tomadas urgentemente foram levadas em conta e o nível de segurança aumentou consideravelmente (na usina de Ohi)”, completou.

Edano, que tem o portfólio de energia, disse que a política do governo de reduzir a dependência nuclear japonesa em médio e longo prazo não sofreu alterações apesar da decisão.

A decisão é uma vitória para a indústria do nuclear do Japão, que ainda é poderosa, e reflete as preocupações de Noda em relação aos danos econômicos provocados por um abandono da energia atômica após o pior desastre nuclear do mundo desde Chernobyl.

A ideia de reativar os dois reatores de Ohi, antes de uma possível crise energética no verão, destaca também o desejo do premiê de ganhar o apoio das empresas preocupadas com os altos custos de eletricidade que poderiam afastar fábricas do país. A Kansai Electric declarou que serão necessárias seis semanas para fazer os dois reatores funcionarem completamente.

Mas essa decisão pode provocar reações de um povo profundamente preocupado com a segurança nuclear. Pelo menos 10 mil manifestantes se reuniram do lado de fora do escritório de Noda na sexta-feira à noite, em meio a uma forte presença policial, para condenar as reativações, incitando o premiê a renunciar e gritando: “Vidas são mais importantes do que economia”.

“A apressada e perigosa aprovação da reativação da usina de Ohi por parte do Primeiro Ministro Noda ignora os conselhos de segurança dos especialistas e os desejos do povo, além de arriscar a saúde do meio-ambiente, das pessoas e da economia japonesa”, declarou o grupo ambiental Greenpeace.

Futuro incerto
O futuro de Noda fica nebuloso enquanto ele tenta manter seu turbulento partido unido depois de fazer um acordo com rivais da oposição para dobrar os impostos sobre vendas do Japão para 10% até 2015.

“Eu imagino que haverá um grande número de reativações (de reatores) até o ano que vem. O governo de Noda é surpreendentemente ansioso”, acredita Jeffrey Kingston, diretor de estudos asiáticos do campus japonês da Temple University.

A energia nuclear fornecia quase 30% das necessidades elétricas antes do desastre de março de 2011, que provocou derretimentos em Fukushima espalhando radiação e forçando evacuações em massa.  O acidente destruiu a crença pública no “mito da segurança” promovido durante décadas pelos defensores da energia nuclear japonesa.

Ativistas coletaram mais de 7,5 milhões de assinaturas para uma petição pedindo o fim da energia atômica. Manifestantes foram para as ruas quase diariamente na semana passada.

Todos os 50 reatores foram desligados para manutenção ou verificações de segurança nos meses após o acidente. O governo havia priorizado receber a aprovação das comunidades locais para as reativações de Ohi e para evitar apagões em julho e agosto.

Críticos dizem que o governo foi muito apressado em assinar as reativações, especialmente com os atrasos em criar uma nova agência nuclear reguladora mais independente.

A confiança pública nas agências reguladoras foi destruída pela evidência de que relações agradáveis com empresas de utilidade pública foram uma das razões-chave para o despreparo da operadora Tokyo Energia Elétrica em relação ao tsunami, e sinais subsequentes de que essas relações ainda são confortáveis demais.

A câmara baixa do parlamento aprovou, na sexta-feira, a legislação que cria uma nova agência reguladora, mas fazê-la funcionar ainda levará meses. Isso poderia forçar o governo a ir mais devagar com as reativações, ainda que alguns políticos estejam ávidos para ir adiante.

“Não podemos mais voltar a depender de velas”, disse o peso-pesado do partido governante, Yoshito Sengoku, em uma entrevista ao jornal Sankei.

A Agência de Segurança Nuclear e Industrial aprovou testes de resistência para o reator nº 3 da Shikoku Electric Power, de 890-megawatts em Ikata, no sul do Japão. Os próximos na lista de possíveis aprovações são os dois reatores da Hokkaido Energia Elétrica em Tomari, no norte do Japão, e os dois da Hokuriku Electric em Shika, no oeste.

“Basicamente ele (Noda) não quer esperar, mas isso atrairia críticas. Então, se o governo fosse inteligente, seria cauteloso”, declarou Hiroshi Takahashi, pesquisador do Instituto de Pesquisa Fujitsu e membro de uma equipe conselheira do governo para políticas energéticas.

(Por Aaron Sheldrick e Kentaro Hamada, Scientific American Brasil, 19/06/2012)


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