A frustração em relação à cúpula do Clima, no Rio de Janeiro, é clara. Mas nada disso ocorre por acaso. Telegramas secretos da diplomacia americana publicados hoje na edição do Estado de S. Pauki revelam que, desde 2008, o governo americano vem trabalhando para evitar que a cúpula sequer ocorresse.
Os telegramas também mostram como a França e Holanda também foram alguns dos que hesitaram em apoiar a cúpula desde 2008. Não por acaso, quatro anos depois, nada parece funcionar. A negociação do texto da declaração final não avança e os confrontos entre países afloram. Mas o que os telegramas também revelam é outra frustração, cada vez mais clara.
Ela se chama Obama, que sequer viajará ao Brasil. Ao ler os telegramas, obtidos pelo grupo Wikileaks, confesso que cheguei a ter dificuldades em diferenciar aqueles que haviam sido assinados por Condoleezza Rice, braço direito da odiada política externa de George W. Bush, e Hillary Clinton, chefe da supostamente diplomacia progressista de Obama.
Os argumentos para frear o plano de convocar a cúpula do Rio apresentados por Condoleezza Rice em 2008 são exatamente os mesmo usados por Hillary Clinton quando assumiu o governo.
Obama, a esperança, não passaria de uma repetição da política ambiental de Bush, aquele líder que conseguia o improvável: um consenso mundial contrário a ele. Os telegramas também revelam outro aspecto: existem interesses de estado que vão muito além da posição de governos. E o meio ambiente é certamente um deles. No Rio, não são nem os estudos ambientais e nem a consciência ética de salvar o planeta que domina a agenda. Mas sim “power politics”, no sentindo mais cru do termo.
Hoje, em plena campanha eleitoral nos EUA, Obama não irá se expor no Rio. Se tomasse uma posição progressista, perderia votos em casa. Se minar um acordo, também seria duramente criticado. Diante da situação, melhor ficar em casa.
Leia material completo sobre os telegramas da diplomacia americana relativos à Rio+20.
(Por Jamil Chade, Estadao.com.br, 19/06/2012)