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rio 2012/cúpula da terra sustentabilidade e capitalismo consumismo
2012-06-19 | Mariano

Viva a Rio+20! Com seus negociadores bem intencionados e sua estrutura bem paga. E muito bem paga, por sinal. Só as barracas e instalações para receber parte da comitiva de três programas e agências da ONU (UNDP, UNFCCC e CBD), saíram por mais de meio milhão de dólares. O custo de todo evento então é incalculável, visto a forma multipartite da organização. Mas o importante é estar tudo muito bonito... para não fazer nada.

Com o perdão da ironia, é difícil lidar com o engodo que querem empurrar goela abaixo do público. E ele vem por todos os lados. Principalmente pelas manchetes dos principais veículos da imprensa brasileira, talvez afogados no mar de releases das inúmeras assessorias de imprensa a serviço dos patrocinadores da cúpula. Ou, quem sabe por pura sintonia com esses mesmos patrocinadores.

Mas tomemos a oportunidade para olhar com mais critério para o marketing verde que emana da Rio+20.

Greenwash
"O reconhecimento dos avanços sociais e ambientais desde a Rio 92 e dos muitos desafios até um nível de desenvolvimento adequado", inicia o release de lançamento do manifesto da Rede Brasileira do Pacto Global, uma rede corporativa mundial que no Brasil é integrada por mais de 200 grandes empresas e organizações, entre elas Braskem, Souza Cruz, CPFL, BASF, Nutrimental e Petrobras.

Sobre os desafios, vale destacar a "promoção da economia verde e inclusiva". Sem esquecer do potencial que o Brasil tem, principalmente "devido aos seus recursos naturais e condições climáticas".

Pode-se concluir que o tal pacto visa manter o Brasil como fornecedor de matéria-prima, onde a única inclusão possível é a do dinheiro. Como se esse desenvolvimento fosse sinônimo de saúde, educação e paz.

No último fim de semana, a Volkswagen apresentou seu protótipo "e-Bulli" na Rio+20. "O modelo é movido por um motor elétrico com emissão zero", dizia o release. Todos candidamente saudaram a inventividade dessa grande empresa, patrocinadora da conferência.

Ninguém na imprensa perguntou quantas toneladas de matéria-prima são necessárias para produzir a criança. Quanta energia é necessária para "encher o tanque", ou mesmo a durabilidade média de um carro "sustentável" como esse. Ou seja, andar de carro continua sendo bom para o meio ambiente.

Já a menina dos olhos do petróleo brasileiro apresentou orgulhosamente sua "inovadora iniciativa" para redução de emissões. Batizado projeto Carbono Cajari, o empreendimento tem como parceiro o Governo do Amapá, visando aliar combate à emissão de gases, desenvolvimento econômico e preservação ecológica. Com R$ 3,7 milhões da Petrobras, o Carbono Cajari se baseia no ensino e implementação de "técnicas de sustentabilidade" a comunidades extrativistas no Sul do Amapá.

Inscrita no programa da ONU de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), a iniciativa permite abatimento de emissões causadas pela estatal em suas operações, através de uma complexa e controversa contabilidade do desmatamento evitado e do "sequestro de carbono" em plantações agroflorestais.

Só um detalhe: plantar árvores, ou evitar que elas sejam derrubadas não impede que o dióxido de carbono siga acumulando na atmosfera. Não é preciso nem comparar a quantidade de petróleo extraído ou queimado pela Petrobras, com o tamanho e a escala dessa iniciativa. O trabalho no Amapá pode até ser louvável, mas ele não é nem de longe um arremedo de solução.

O tabu do consumo
Dentro da UNFCCC, todos estão conscientes de que os créditos de carbono tinham (ou continuam tendo) uma função educativa. Chamar a atenção, conscientizar sobre o problema, incentivar a busca de novas soluções. Soluções que todos parecem ansiosos para conhecer.

No ponto em que chegamos, negociar créditos ou direitos para continuar emitindo é o mesmo que tentar curar uma doença vendendo no mercado o direito de ficar doente. A questão na secretaria do clima da ONU é que lá existem 300 pessoas sendo bem pagas para manter viva essa ilusão chamada mercado de carbono. E vale lembrar que na ONU quem dita as regras são as "partes" (governos e organizações), resumindo, aqueles que pagam as contas.

As reais soluções têm sido até o momento solenemente ignoradas. Principalmente no Brasil do milagre econômico do novo milênio. No fim de abril deste ano, a Sociedade Real da Grã-Bretanha publicou um extenso relatório sobre os principais problemas sociais e ambientais do planeta. A conclusão é inequívoca: "cortar o consumo é a medida mais urgente a tomarmos".

E mesmo que o relatório fale apenas de um corte nos gastos dos países ricos, é fato notório que mesmo em países como o Brasil há bastante gente consumindo muito mais do que necessita, comprando só por hábito, para compensar algum outro vazio da alma.

A idéia da redução do consumo não é nova. A análise dogmática a que foi submetida pelos arcanjos da economia moderna é o que explica sua rejeição até o momento. Em Prosperity Without Growth (2009), o britânico Tim Jackson já havia demolido os pilares da economia financeira que atribuem ao crescimento infinito e permanente um status de tabu.

"Prosperidade hoje significa nada se ela compromete as condições para a prosperidade amanhã", escreveu ele, lembrando que pesquisas atuais desmentem a conexão entre nível de consumo e qualidade de vida.

Hoje crescimento econômico segue sendo nossa religião, enquanto consumo é a celebração desses credos.

Continua...

Leia mais:

16/06/2012 - A Rio+20 e as preces do fim do mundo (coincidências)

(Por Mariano Senna, Ambiente JÁ, 19/06/2012)


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