No último dia das negociações do documento da Rio +20, o Brasil se esforça para manter no texto um parágrafo que pede o fim dos subsídios "daninhos e esbanjadores" aos combustíveis fósseis.
A frase é considerada por ambientalistas um resultado significativo da conferência do Rio, mas antes é preciso combinar com os russos. E vários outros.
Os grandes países produtores de petróleo, transferindo para a Rio+20 o habitual impasse nas negociações de mudança climática, não querem nem ouvir falar de acabar com subsídios. Venezuela e Arábia Saudita, no domingo, combinaram a portas fechadas uma ação para bloquear as decisões sobre subsídios.
Esses dois países, porém, estão longe de ser as únicas vozes no G77 (o bloco que reúne 130 nações em desenvolvimento, incluindo Brasil e China) a defender a manutenção dos subsídios à energia fóssil.
Segundo explicou nesta segunda-feira à Folha um representante de alto nível do grupo, países africanos e Índia também defendem essa posição, argumentando que precisam dar acesso à energia a uma grande parcela de sua população, que é muito pobre.
Os EUA, que costumam bloquear qualquer decisão contrária aos interesses da indústria do petróleo, se aliam ao Brasil na questão dos subsídios: o presidente Barack Obama e contra sua manutenção, e já defendeu na cúpula do G20, em 2009, que eles sejam eliminados.
Um relatório divulgado nesta segunda-feira no Rio pela ONG Oil Change International mostra que, apesar da promessa, o G20 não fez nada para eliminar os subsídios até hoje. Eles continuam no mundo inteiro, e são da ordem de US$ 775 bilhões --e talvez US$ 1 trilhão-- por ano.
"Enquanto o G20 fala sobre crises econômicas e a Rio +20 se bate sobre finanças ambientais, aparentemente não existe austeridade alguma quando o assunto é a indústria dos combustíveis fósseis", disse Steve Kretzmann, autor do relatório.
Ambientalistas iniciaram uma campanha no Twitter para que a Rio +20 elimine os subsídios.
(Por Claudio Angelo e Claudina Antunes, Folha Online, 18/06/2012)