Apenas uma em cada cinco empresas brasileiras que se financiam com o dinheiro do conjunto dos investidores presta conta sobre como utiliza os recursos naturais coletivos, se relaciona com suas comunidades e respeita as boas regras de gestão.
A conclusão é de pesquisa da BM&FBovespa com 448 empresas com ações, que será divulgada hoje na Rio+20.
Segundo a pesquisa, só 96 companhias abertas (21,4%) elaboram o relatório de sustentabilidade, publicação periódica em que as empresas relatam as ações para reduzir o impacto ambiental deixado por sua atividade (tratamento da água, emissão de gases, consumo de energia, reciclagem, uso de insumos etc.), programas voltados ao bem-estar da comunidade (incluindo funcionários), além de práticas de boa gestão e respeito ao acionista.
A Bolsa resolveu fazer essa pesquisa atendendo a uma demanda antiga da comunidade financeira, especialmente dos fundos de pensão e das fundações ligadas a universidades estrangeiras, que seguem a determinação de seus associados de só investir em empresas com práticas consideradas responsáveis.
Fabricantes de cigarro e armas e empresas que se envolvam em escândalos de corrupção ou provoquem danos ambientais estão fora do radar desses investidores.
Vários deles se reunirão no dia 28, no Rio, no congresso do PRI (Princípios para o Investimento Responsável). O grupo tem 1.070 signatários que cuidam de US$ 35 trilhões em recursos.
Greenwashing
Para fazer a pesquisa, a Bolsa pediu a cada uma das empresas listadas que relatasse suas práticas de sustentabilidade ou explicasse os motivos pelos quais não faz essa prestação de conta.
Das 352 empresas que não publicam o relatório ambiental, 107 deram respostas como "estamos nos estruturando" ou "somos uma empresa de participações sem responsabilidade sócio-ambiental relevante".
"Parecem poucas empresas, mas é o só começo. E diria que será bem rápido porque a empresa é valorizada. O objetivo é induzir as empresas a organizarem essas informações. Aquilo que eu não meço, não gerencio", disse Sonia Favaretto, diretora de sustentabilidade da Bolsa.
A Bolsa não fez aferição de qualidade das informações prestadas, mas sugere princípios para ajudar na elaboração de relatórios que superem o chamado "greenwashing" -falso ambientalismo com fins de marketing.
Em janeiro, promoveu cinco workshops do GRI (Global Reporting Initiative), organização responsável pelas diretrizes mais utilizadas na elaboração desses relatórios. Na pesquisa, só 46 empresas seguiam as regras do GRI.
No Brasil, quem não divulgar relatório de sustentabilidade não será impedido de negociar ações na Bolsa. Na África do Sul, só empresas que divulgam (ou explicam por que não o fazem) podem ter ações negociadas na Bolsa de Johannesburgo.
(Por Toni Sciarretta, Folha de S. Paulo, 18/06/2012)