Uma empresa controlada por oligarquias do Cazaquistão quer transformar Ilhéus, no sul da Bahia, em um dos maiores complexo portuário do país, graças a um gigantesco terminal de embarque de minério de ferro. As consequências ambientais serão devastadoras. Em outros países, os donos da empresa são acusados de lavagem de dinheiro, suborno, corrupção e devastação ambiental. Em Ilhéus não será diferente.
Projeto da empresa Eurasian Natural Resources Corporation (ENRC), sediada no Cazaquistão, vai transformar a Bahia no terceiro maior produtor nacional de minério de ferro.
O projeto está em fase adiantada e é tocado pela Bahia Mineração, empresa controlada pela ENRC. Vai gerar empregos e impostos, além de atrair siderúrgicas, interessadas em ficar perto das jazidas e do porto.
Governantes e parte da população veem a iniciativa como a salvação econômica de uma região pobre e com poucas oportunidades econômicas, principalmente depois que as lavouras de cacau foram dizimadas, no século passado, pelo fungo vassoura de bruxa, difícil de combater e que derrubou drasticamente a produção.
A instalação do porto, em Ilhéus, causará impactos ambientais graves e irreversíveis.
Impactos
Com 1,8 mil hectares de área construída em terra, o porto vai afetar de forma irreversível um dos pedaços mais preservados da Mata Atlântica brasileira, o que contraria frontalmente a legislação.
O projeto de impacto ambiental diz que, em 30 anos, o mar poderá avançar até 100 metros, levando consigo casas, pousadas e toda a vegetação. O efeito da erosão vai se espalhar por um raio de 10 quilômetros.
Especialistas também dizem que o porto e a movimentação de navios vai afetar a rota das baleias jubarte. O terminal de embarque é do tipo offshore, com o ancoradouro localizado três quilômetros mar adentro, ligado à costa por uma ponte.
Contaminação
O empreendimento também vai comprometer a indústria do turismo e contaminar a cadeia alimentar humana, que estará exposta a grande quantidade de arsênio, metal pesado que hoje está acumulado no leito marinho e que será trazido à tona pela dragagem.
O arsênio está lá por conta do uso excessivo de agrotóxicos, anos atrás, na tentativa de combater a vassoura de bruxa. As chuvas lavaram a lavoura, contraminaram os córregos e o produto foi parar no fundo do mar.
A contaminação da cadeia alimentar por arsênio, provocado por empresa de mineração, não é nova no país. Comunidades no Amapá convivem com o problema desde a segunda metade do século XX.
No Amapá, segundo pesquisa da Universidade Federal do Pará, a contaminação por arsênio provocou um alto índice de nascimentos de crianças anencefálicas e o brutal aumento de doenças cardíacas em adultos jovens.
O arsênio que será remexido no litoral de Ilhéus terá consequências mortais, como efeitos muito parecidos aqueles registrados no Amapá. A contaminação dos alimentos afetará as gerações futuras e qualquer pessoa que comer peixe proveniente do Sul da Bahia.
Água
O setor de mineração utiliza uma quantidade enorme de água. Em Caetité, a extração do minério vai utilizar água trazida, por tubulações, do rio São Francisco, a uma taxa de 996 litros por segundo.
Os encanamentos da mineradora, autorizados pela Agência Nacional de Águas, vão passar por comunidades com graves problemas de falta d’água e que esperam, há décadas, pelo abastecimento.
(Por Marques Casara, Rede Sustentável, 17/06/2012)