O núcleo político do Palácio do Planalto está de olho nos passos de Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e ex-candidata à Presidência da República pelo PV, durante a Rio+20.
Auxiliares da presidente Dilma Rousseff identificam a impressão digital de Marina na articulação de organizações não governamentais ligadas às causas ambientais para criticar o governo federal. Acreditam que a ex-ministra busca um espaço a fim de obter dividendos eleitorais.
Aliados da ex-ministra, porém, negam que a atuação de Marina esteja fundamentada num cálculo político, e adiantam que sua agenda será uma maratona nos próximos dias.
Marina vai participar de 15 a 20 eventos durante a conferência sobre desenvolvimento sustentável, entre debates oficiais realizados no âmbito das Nações Unidas, seminários promovidos por ONGs e eventos na Cúpula dos Povos.
Para um aliado de Marina, a Rio+20 é um momento em que a opinião pública está mais sensível ao debate ambiental e a ex-ministra apenas aponta os "descaminhos" de algumas políticas federais. "Não é uma estratégia artificial para ganhar espaço e ter ganhos eleitorais", argumentou.
"Existe um equívoco grande, por parte principalmente do governo, de que as críticas à gestão ambiental são políticas e para ganhar espaço eleitoral. Ela sempre foi militante das questões ambientais. Ela virou ministra por isso e a candidatura à Presidência decorreu disso."
Marina esteve à frente das críticas às mudanças feitas pela presidente no Código Florestal. Dilma vetou 12 trechos do texto aprovado pelo Congresso e editou uma medida provisória propondo 32 mudanças no código. Marina classificou os vetos de Dilma de "periféricos e insuficientes". Os ambientalistas defendiam um veto total ao Código Florestal.
A ex-ministra também condenou a posição brasileira contrária à criação de uma agência global de meio ambiente, dizendo que tal comportamento "faz parte do rol de retrocessos".
Ex-ministra do Meio Ambiente durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, Marina Silva protagonizou disputas com outras áreas do governo, como a Casa Civil então dirigida por Dilma Rousseff, sobre o modelo de desenvolvimento adotado pelo país. Deixou o cargo em 2008.
No ano seguinte, desfiliou-se do PT condenando a "concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria, ao custo, principalmente para os mais pobres, da destruição de recursos naturais e da qualidade de vida".
Dias depois, Marina filiou-se ao PV para disputar a eleição presidencial de 2010. Ela conquistou 19,6 milhões de votos no primeiro turno. Dilma e José Serra (PSDB) receberam 47,6 milhões e 33, 1 milhões, respectivamente.
(Valor Econômico / IHU On-Line, 18/06/2012)