Eliminação de colchetes não necessariamente significa acordo consistente. Metas de desenvolvimento sustentável foram proteladas
Foi à uma hora da manhã de sexta-feira passada que terminou a terceira e ultima reunião preparatória, mais conhecida como PREPCOM, encerrando um processo que contou com varias reuniões interseccionais ao longo de dois anos. Em um plenário lotado e quente, os facilitadores dos grupos de negociação foram chamados a apresentar seus resultados e, curiosamente, para quem não acompanha este tipo de negociação, os relatos otimistas que davam a entender que tudo estava praticamente pronto. Ledo engano.
O que se viu está muito longe de ser um texto limpo e contundente para ser apresentado aos chefes de Estado. Os grupos só conseguiram produzir um documento fraco, cheio de controvérsias e observações (os tais colchetes). Se formos olhar para os últimos dias de trabalho o resultado que surgiu na noite de sexta feira mostrou claramente que a tarefa de acordar uma quantidade enorme de pontos em aberto era uma missão impossível.
Terminados os relatos o Brasil assumiu oficialmente a liderança do processo de negociação. E, é neste ponto, que as expectativas se tornam mais positivas. Embora o pais pudesse ter assumido este tipo de liderança informal há dois anos atrás contribuindo para evitar o fracasso que se viu na sexta-feira há uma esperança que a performance dos nossos diplomatas supere impasses fundamentais.
A partir de agora, cada grupo de discussão tem um líder brasileiro e é sobre eles que pesa toda a responsabilidade.
O Brasil tem, portanto, em sua mão uma tarefa extremamente difícil. Em dois dias em meio precisa apresentar um documento limpo, sem conflitos, um documento acordado entre as partes. Para atingir esta meta há dois caminhos de negociação: os facilitadores brasileiros conseguem obter das delegações acordos sobre os assuntos mais difíceis e isto seria um grande feito, uma grande vitória,
Ou, não podendo, a única opção será a de eliminar os assuntos polêmicos e difíceis do texto. A segunda opção aparece como a mais factível, pois já há sinais claros de que isto acontecerá.
Ontem o embaixador |Luiz Alberto Figueiredo Machado anunciou que as metas do Desenvolvimento Sustentável serão tratadas num processo separado até 2014. Isto significa protelar uma das maiores esperanças do Rio+20 e não aproveitar a vinda dos chefes de Estado para tomar uma decisão neste tema. Quando o assunto é o Clima, por exemplo, vimos que o último texto sequer foi discutido nas 4 reuniões programadas para isso, pois todas foram canceladas.
Portanto o que se vê claramente é que os assuntos mais importantes e, portanto os mais difíceis de resolver estão em vias de serem diluídos e/ou eliminados, pois não obtiveram consenso. Se eliminados, teremos um documento decepcionante e muito distante do que precisamos, muito aquém das necessidades do Planeta.
O momento é crucial tenso. Serão dois dias e meio para resolver dois anos. Será que dá?
(Vitae Civilis, 17/06/2012)