Há 10 anos morreu José Lutzenberger, um dos principais responsáveis pela Rio 92, a cúpula mundial do meio ambiente realizada 20 anos atrás. É interessante que, justo no ano que relembra esses acontecimentos, o mundo se reúna para um balanço. Se não existem coincidências, como afirmam os físicos-quânticos, deve haver um significado nessa sobreposição de datas e aniversários. Ou será apenas uma estratégia de marketing?
Lembro de uma conversa com Lutz durante a elaboração do livro Pioneiros da Ecologia (JÁ Editores, 2002). Perguntei qual a hipótese dele sobre a mudança climática, na época ainda não tão consensual como hoje. O que aconteceria com a humanidade? "Teremos muita sorte se formos acordados por uma série de pequenas catástrofes, que ocorrendo de tempos em tempos nos darão tempo para reagir e adaptar", respondeu ele com a objetividade e contundência habituais.
A resposta era a demonstração da fé e do otimismo de um ícone do catastrofismo brasileiro, que não se importava de ser chamado de louco. Afinal, a considerar o hospício que se tornou o mundo de hoje, isso era até um elogio.
Além disso, como descendente de alemães, Lutzenberger sabia que, apesar de todas as mazelas ambientais, a guerra sempre foi a pior tragédia da humanidade. Daí talvez também a razão da Rio+20 focar seus debates na idéia abstrata da "economia verde". Pois como se sabe, a crise da economia é o útero da guerra.
Mas a contar o tempo passado e os rumos do futuro, é de se pensar mais uma vez qual o significado dessa confluência de datas e crises que se apresentam ao mesmo tempo. Como reagiremos se o financismo internacional ruir no instante em que o cataclisma destroçar aquilo que chamamos de civilização? Será que a nossa sorte está prestes a acabar?
Mesmo que não, é ilusão acreditar que alguma solução sairá de um circo elitista como a Rio+20. Ali só tem voz quem quer manter as coisas como estão. Seja o lucro dos empresários, o poder político dos governos, ou os altos salários dos mandatários da ONU. Ninguém, apesar de já ter mais do que o suficiente, quer abrir mão de nada. É o direito adquirido de detonar o futuro.
E nós, pior do que avestruzes, buscamos mais do que um buraco para escondermos a cabeça. Em maioria, dispostos a acreditar nas muitas mentiras que chegam pelos principais canais de comunicação. Digitais ou analógicos. Ávidos por suplantar a realidade que todos já sentem.
Desesperados por uma saída, preferimos delegar a responsabilidade aos representantes eleitos, confiáveis ou não. Afinal, depois será mais fácil culpar os outros. Quase como um conforto, frente ao fato de que a mudança necessária só poderá ser alcançada com o comprometimento e o sacrifício de todos hoje. Do contrário, como alertam muitos cientistas, sacrificaremos o futuro de nossos filhos e netos.
Continua...
(Por Mariano Senna, Ambiente JÁ, 16/06/2012)