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2012-06-15 | Mariano

Duas semanas depois de cumular o deputado federal Jader Barbalho de atenções, na festa realizada no luxuoso Waldorf Astoria, em Nova York para receber o título de empresário do ano no mercado brasileiro-americano, Roger Agnelli, fez algo raro nos seus 10 anos no cargo: passou algumas horas em Belém, em junho de 2006, para cuidar do “outro lado”. Foi ao gabinete de despachos do governador Simão Jatene e posou sorridente ao lado do principal executivo do grupo Liberal, Romulo Maiorana Júnior, inimigo figadal de Jader.

Agnelli desceu das suas tamancas de principal executivo da maior empresa privada brasileira, a que mais exporta, a que mais contribui com dólares para o país e a que mais distribuiu dividendos no mundo no ano anterior. Acostumou-se a frequentar personalidades de importância internacional e a tratar de temas complexos. Mas como quase um terço do que sua corporação produz sai do Pará, via-se obrigado a descer ao rés-o-chão da política paraense, que abominava.

Esse jogo que sempre exigiu habilidade e paciência, mas não menor capacidade de fingimento. As deferências a Jader Barbalho (que se fez acompanhar do filho, responsável pelo seu jornal diário) não foram especiais por conta do currículo (e do prontuário) do ex-ministro, uma das personalidades políticas mais controversas e atacadas no país nos últimos anos, mesmo não sendo estrela de primeira grandeza nesse universo.

Em 2006 o ex-governador do Pará era figura decorativa nas atividades explícitas do Congresso, das quais, por estratégia própria, pouco participava. Mas era (e voltou a ser) expoente nas tratativas de gabinete, nas articulações de bastidores e na interlocução com quem está como presidente da república, seja ele Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva ou Dilma Rousseff. É reconhecido por todos, inclusive os inimigos, que por isso o temem, como um dos melhores negociadores do parlamento.

O destaque dado a Jader Barbalho imediatamente desencadeou um boato no Pará: o ex-ministro teria conseguido o compromisso da CVRD de apoio à sua campanha eleitoral, qualquer que viesse a ser o seu objetivo: reeleição para o senado ou o governo do Estado. Até um valor, de 30 milhões de reais, foi apontado como o resultado desse acordo. O boato foi desmentido e desacreditado, mas sua semeadura foi fértil. As ausências em NY do (de novo) governador Jatene e do empresário Rominho, que simplesmente ignoraram os convites, foi sintomática.

A boataria precisava de uma resposta imediata e ela foi dada pelo deslocamento (em jatinho particular, naturalmente) de Agnelli a Belém, em meio a uma agenda tão carregada e a uma mal disfarçada má-vontade pelo Pará. Do que foi tratado nos dois encontros nada foi revelado, mas ficou evidente que o governador e o empresário das comunicações ficaram satisfeitos. Romulo Jr. permitiu que uma boa foto saísse na terceira página de O Liberal, a mais valorizada do jornal. Sinal de que também foi tratado com toda deferência possível.

Que instrumento a CVRD maneja para agradar ao mesmo tempo gregos e troianos, tucanos, papagaios e araras? Eis aí a melhor pista a seguir, nos rastros tão pequenos de uma corporação tão grande, para saber o que ela faz para manter ou mudar o comando do poder no Pará; com tal sagacidade que tudo muda para tudo continuar como está, os que saem e os que entram bem aquinhoados, enquanto o Estado segue ao vai-da-valsa.

Agnelli tinha ensaiado uma reação contra as coações da imprensa local. A batalha de Itararé (aquela que nunca aconteceu) entre o grupo Liberal e a Vale chegou ao fim do dia 16 do mês passado. Anunciada com todo estardalhaço em 2003, quando as partes de dispunham a tudo para defender suas honras, ela foi encerrada por acordo entre as partes na 10ª vara cível de Belém. Sem qualquer derramamento de sangue, mesmo o mais simbólico.

Um ditado popular, inspirado pela morosidade processual que costuma caracterizar o foro brasileiro, garante que quem tem juízo não vai a juízo. E que um péssimo acordo é melhor do que a mais justa das causas. Assim, costuma-se aplaudir quando os litigantes encerram suas diferenças em juízo. Seria a demonstração de que o juízo ainda não lhes falta.

Não é o caso da demanda. Ela começou em 2003 com a cobrança, pelo grupo Liberal, de uma duplicata supostamente não paga pela Vale. A ação foi aceita, apesar de o papel não ter a assinatura do suposto emitente. Logo, era uma duplicata fria. Tão forjada quanto as aplicações de capital próprio dos irmãos Maiorana na Tropical Indústria Alimentícia para engolir dinheiro da Sudam para projetos privados beneficiados por incentivos fiscais federais.

A Vale mandou seus advogados a Belém para contestar a ação e reagir, ajuizando ação de indenização por danos morais, ação inédita por parte de uma empresa privada contra a poderosa corporação de comunicação da família Maiorana, que a todos intimida.

A cobrança da duplicata foi precedida por uma campanha desencadeada pelos veículos do grupo contra a Vale, que chegou a ser declarada persona non grata ao Pará. A alegação dos Maioranas era de que ela causava prejuízo ao Estado. Na verdade, era porque a empresa se recusara a dar patrocínio a promoções da “casa”, de valor exorbitante (seis milhões de reais por um torneio de vôlei, por exemplo). O grupo de comunicação bradava aos céus pela necessidade de banir a empresa espoliadora. Já a mineradora mostrava-se vítima de uma tentativa de extorsão.

Passados nove anos, acordo fora dos autos (ou extrajudicial) entre as partes levou à extinção da ação sem resolução de mérito, embora mérito (ou demérito) houvesse – e bastante – em mais de duas mil páginas dos autos de uma ação e mais de quatro mil nos de outra. O que menos interessava para valer na contenda, porém, era o que diziam as partes. De 2004 a 2010 a advogada dos Maioranas, Paula Fernanda Brasil Gonçalves, ficou com os autos em seu poder. Só os devolveu com a cobrança judicial.

Os ânimos começaram a serenar em abril de 2004, quando o então presidente da Vale, Roger Agnelli, jantou no sofisticado restaurante Satyricon, em Ipanema, no Rio de Janeiro, com o então diretor corporativo (hoje, por alguma mudança não explicada, diretor jurídico) do grupo Liberal, Ronaldo Maiorana, e seus assessores. Como fez o convite, Agnelli pagou a conta.

Essa e todas as outras que lhe foram apresentadas para ter a boa vontade das Organizações Romulo Maiorana. Entre fartos elogios e volumosa propaganda, os contendores se esqueceram das ações e dos próprios autos, confinados durante seis anos ao escaninho advocatício, até que, por força das metas impostas pelo Conselho Nacional de Justiça, para zerar os processos pendentes em todo país, os autos foram cobrados e o acordo celebrado. E assim se faz a (anti)história do país.

(Por Lúcio Flávio Pinto, Vale q Vale, 07/06/2012)


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