No primeiro passo para as Contas Ambientais, que incluem o impacto dos recursos naturais no cálculo do PIB, o Brasil seguirá o caminho de países como Holanda e Canadá: começará pela água e depois vai incorporar florestas e fontes de energia nos cálculos das Contas Nacionais. No futuro, as novas metodologias levarão à divulgação regular de um “PIB Verde” dos países, que contabiliza as perdas e a exaustão dos recursos do meio ambiente na produção de riqueza.
Para avançarem nas contas ambientais, o países seguirão os padrões metodológicos das Nações Unidas, reunidos na publicação Sistema de Contas Econômicas Ambientais (SEEA, na sigla em inglês), apresentada ontem por representantes de institutos de estatísticas de vários países e de organismos internacionais, na sede do IBGE.
O representante do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Sheng Fulai, criticou o uso do PIB como padrão de riqueza, por valorizar informações econômicas e não levar em conta dados ambientais e de sustentabilidade.
“O PIB tende a ser usado de maneira equivocada. O PIB não é indicador de progresso, como tem sido usado”, afirmou Fulai, chefe de pesquisa do departamento de Economia e Comércio do Pnuma. “É como o painel de um carro. Se o hodômetro (instrumento que mede quilômetros rodados) não estiver correto, pode causar problemas para o motorista e outras pessoas”, comparou.
As primeiras discussões sobre Contas Ambientais começaram na Rio-92, mas tiveram poucos avanços nestes vinte anos. Finalmente, no início deste ano a ONU consolidou o padrão da nova contabilidade.
Especialista em economia verde, Sheng Fulai, apontou outros “problemas” do PIB como é medido atualmente: “Não é completo, porque impactos ambientais e sociais não são considerados. E não é preciso, por exemplo, por não considerar a exaustão de recursos”.
“O PIB Verde é o guarda-chuva que pode resolver essas questões e o SEEA é a primeira realização concreta desde a Rio 92. É o pai e a mãe de todas as ações”, afirmou o representante do Pnuma. O encontro dos técnicos do Comitê das Nações Unidas de Especialistas em Contas Econômicas Ambientais começou na segunda-feira e termina amanhã.
A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, explicou que a opção por começar as contas ambientais pela água foi tomada pelo fato de haver mais informações disponíveis sobre o recurso natural. Um convênio com a Agência Nacional de Águas (ANA) firmado no mês passado foi o ponto de partida para a medição do impacto dos recursos hídricos nas Contas Nacionais.
Wasmália disse que os trabalhos para a medição do impacto da água doce nas Contas Nacionais começam logo depois da Rio+20, mas não soube estimar quando o indicador passará a fazer parte da divulgação regular do PIB brasileiro. “O objetivo final é chegar em uma medida comparável em valores com outros países e acompanhar o desempenho ano a ano no País”, disse a presidente do IBGE.
As Contas Econômicas Ambientais da Água vão levar em conta o volume de estoque de água doce no País e procurar uma valor monetário para o gasto em água na produção de bens e serviços e também no uso doméstico. Segundo Wasmália, a pergunta central é “quanto de água o País usa para produzir o PIB?” Países como México, Holanda e Canadá são, segundo técnicos do IBGE, os mais desenvolvidos no impacto de recursos naturais no PIB, especialmente a água.
A representante do Banco Mundial, Glenn-Marie Lange, disse que o organismo já conseguiu US$ 15 milhões para o fundo que financiará a elaboração das contas ambientais da água em seis países (Filipinas, Madagascar, Botswana, Colômbia, Costa Rica e Vietnã) e aproveitará a Rio+20 para buscar novos recursos.
(Por Luciana Nunes Leal, Estadao.com.br, 12/06/2012)