Secretário critica tentativa dos países desenvolvidos de voltar atrás em responsabilidades assumidas. Cúpula foi convocada para renovar princípios da Eco-92, não para mudá-los, diz o chinês Sha Zukang, da ONU
O chinês Sha Zukang, secretário-geral da Rio+20, se pronunciou ontem contra a tentativa de países ricos de retirar ou diluir no documento final da conferência a ideia da "responsabilidade comum, mas diferenciada".
Segundo esse princípio -presente nos acordos globais resultantes da Eco-92-, nações desenvolvidas deverão contribuir mais para o desenvolvimento sustentável.
Zukang chegou ao Rio no final de semana e deve ficar na cidade até o final da Rio+20. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável começa oficialmente amanhã, com a última rodada de negociações entre os países sobre o texto que será a base do documento final do encontro. Mas eventos paralelos ligados aos temas em debate já estão sendo realizados desde o final de semana.
O secretário lembrou que o objetivo da Rio+20 é "renovar" os princípios da Declaração do Rio e da Agenda 21, aprovadas há 20 anos.
"Nosso trabalho não é mudar os princípios, acrescentar novos ou eliminar qualquer um deles. Todos os 27 princípios da Declaração do Rio são relevantes e válidos hoje, se não mais", disse.
O documento final da Rio+20 não deverá detalhar metas, mas a questão de quem vai pagar a conta para conciliar proteção ambiental com desenvolvimento atrasa o acordo sobre o texto.
EUA, Europa e Japão dizem que China, Índia e Brasil, entre outros, devem assumir mais responsabilidades. O G-77, grupo que reúne mais de 130 países em desenvolvimento, insiste em manter o princípio da diferenciação.
A negociação continua de amanhã a sexta, mas pode se prolongar até a cúpula propriamente dita, de 20 ao 22, e até que o acordo saia. "As pessoas sempre mostram suas cartas no último minuto."
Segundo a ONU, 134 chefes de Estado e de governo já se inscreveram para falar na próxima semana, mais que na Eco-92 (108) e na Rio+10, em Johanesburgo (104).
Família
A Rio+20 integra uma família de cúpulas da ONU sobre ambiente. A primeira foi em Estocolmo, Suécia, em 1972, dando origem ao relatório "Nosso Futuro Comum". Ele define desenvolvimento sustentável como o que satisfaz as necessidades atuais "sem comprometer a capacidade das gerações futuras de se desenvolverem".
Na Rio+20, os temas centrais são: "economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza" e "estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável".
As propostas em negociação incluem o fortalecimento do Programa da ONU para o Meio Ambiente e a criação de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com metas para energia limpa e segurança alimentar.
Mais um nome para economia verde?
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, defendeu ontem no Rio que o conceito de economia verde, em discussão na Rio+20, seja ampliado para "economia verde inclusiva". Segundo ele, essa nova concepção deve promover "a geração de empregos, inovação, ciência, inclusão social e a proteção ambiental".
No caminho para os 9 bilhões
O crescimento populacional é o "desafio do século" e não está está sendo tratado adequadamente na Rio+20. A avaliação é do consultor do Fundo de População da ONU, Michael Herrmann. "Estaremos nos enganando se acharmos que é possível falar de desenvolvimento sustentável sem falar sobre quantas pessoas seremos no planeta", disse. A ONU prevê uma população de 9 bilhões em 2050.
(Por Claudia Antunes e Denise Menchen, Folha de S. Paulo, 12/06/2012)