Pesquisa publicada no periódico Nature Climate Change afirma que a quantidade de dióxido de carbono sendo liberada pela China pode ser 1,4 bilhão de toneladas maior do que o anunciado, o que equivale a tudo o que o Japão emite anualmente
Às vésperas da Rio+20, surge um estudo que pode significar que a urgência para mitigar as emissões de gases do efeito estufa é muito maior do que se pensava.
Pesquisadores chineses, britânicos e norte-americanos, liderados por Dabo Guan, da Universidade de Leeds, afirmaram que, devido a um erro na avaliação das emissões do setor de energia, os números das emissões chinesas podem estar omitindo 1,4 billhão de toneladas de CO2.
Essa mesma falha pode estar acontecendo em outras nações, o que significaria que o aquecimento global pode ter impactos ainda mais cedo do que o estimado.
Para se ter ideia, esse 1,4 bilhão de toneladas equivale a tudo o que o Japão afirma emitir anualmente e um aumento de 20% no total de emissões da China, que já ocupa o topo do ranking como o maior emissor global.
O estudo "The gigatonne gap in China’s carbon dioxide inventories", publicado neste fim de semana na Nature Climate Change, analisou os dados do Escritório Nacional de Estatísticas da China referentes ao uso de energia pelo país e por cada uma de suas províncias. Após compilar os dados, os pesquisadores descobriram que os números nacionais não batem com a soma das 30 províncias.
As estatísticas nacionais mostram que, em média, as emissões de CO2 têm crescido a 7,5% ao ano desde 1997, chegando a 7,69 bilhões de toneladas em 2010. Já a soma de todas as províncias registra um crescimento de 8,5%, alcançando 9,08 bilhões de toneladas em 2010.
“Identificamos uma grande diferença entre as duas bases de dados. Isto implica que a incerteza sobre as emissões chinesas é maior do que nunca”, afirmou Guan à Agência Reuters.
O estudo aponta duas explicações para a discrepância nos dados. A primeira diz respeito ao método de recolhimento das medições, que é feito pegando números de parques industriais inteiros e não de cada indústria individualmente. Este processo, apesar de simplificar o trabalho, acaba deixando de lado muitas fábricas que não estão aglutinadas em parques, assim como empresas de menor porte.
A segunda falha seria a falta de independência dos departamentos governamentais que coletam os dados. Existe muita pressão para que os números coincidam com o que o governo precisa. Por exemplo, autoridades locais podem estar divulgando um consumo de energia maior do que o real para alegar um crescimento no PIB de sua região e ganhar a simpatia de Pequim.
O estudo tem uma série de importantes implicações. O grande aumento nas emissões chinesas pode significar que os modelos para calcular os impactos do aquecimento global estão errados, o que resultará em sermos pegos de surpresa quando as mudanças mais graves começarem a acontecer.
A incerteza sobre as emissões também é um desafio para as negociações climáticas internacionais, uma vez que pode servir de munição para países que vão cobrar metas mais rigorosas da China.
Outro problema é a confiabilidade de ferramentas como um mecanismo de comércio de créditos de carbono, que o governo chinês já planeja implantar. Para funcionar com eficiência, esse tipo de instrumento precisa contar com um monitoramento das emissões de qualidade, o que está longe de ser uma realidade.
Em resposta ao estudo, o Escritório Nacional de Estatísticas afirmou que a discrepância se deve ao uso de diferentes fatores de conversão. No entanto, Guan acredita que isso não explica uma diferença tão grande nas emissões. Ele encontrou erros semelhantes nas declarações nacionais e de cada província no uso do carvão, por exemplo.
Os pesquisadores salientam que problemas de monitoramento não são exclusividade da China, e é provável que os números globais de emissões estejam equivocados por uma larga margem.
(Por Fabiano Ávila, Instituto CarbonoBrasil, 11/06/2012)