O Irã desafiou a comunidade internacional nesta quarta-feira ao declarar que nunca renunciará seu programa nuclear, incluindo o polêmico enriquecimento de urânio, acusando a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) de basear suas inspeções em informações dos serviços de inteligência ocidentais.
No marco de uma reunião do Conselho de Governadores da AIEA em Viena, o embaixador iraniano, Ali Asghar Soltanieh, foi taxativo ao dizer que seu país "resistirá até o final" e "nunca aceitará que se ponha em risco sua segurança nacional".
Soltanieh fazia referências às exigências dos inspetores da agência nuclear da ONU, que almejam visitar o mais rápido possível uma instalação militar nos arredores de Teerã, onde o próprio organismo e vários serviços de inteligência suspeitam que haja atividades atômicas militares.
Neste contexto, o embaixador iraniano se mostrou convencido que os inspetores não encontrarão nada nesse lugar e que toda essa preocupação acabará sendo um motivo de "vergonha" para a AIEA.
Em relação ao enriquecimento de urânio, um material usado para produzir energia nuclear e também bombas atômicas, o iraniano disse que os EUA e a UE (União Europeia) "devem aceitar a realidade".
"Estamos determinados a manter nossas atividades nucleares, incluindo o enriquecimento. Não vamos suspender essas atividades nunca", declarou Soltanieh.
ONU e EUA
Desde 2006, o Conselho de Segurança das Nações Unidas exige que o Irã suspenda suas atividades atômicas mais delicadas, principalmente o enriquecimento. Por conta deste fato, esse mesmo conselho já adotou quatro rodadas de sanções contra a República Islâmica.
Os EUA, por sua vez, também acusam o Irã de estar ter desenvolvido trabalhos de limpeza na base militar de Parchin, onde a AIEA suspeita que o exército iraniano realizou experimentos com explosivos especiais.
Com objetivo de firmar um acordo para intensificar as inspeções no Irã, incluindo em Parchin, o organismo, liderado pelo inspetor chefe Herman Nackearts, deverá se reunir novamente com uma delegação iraniana nesta sexta-feira. Apesar das críticas contra o organismo, Soltanieh se mostrou "confiante" na possível finalização desse acordo.
Ontem, o encarregado de negócios dos EUA perante a AIEA, Robert Wood, questionou as boas intenções do Irã em Viena.
"Se o Irã não tem nada que ocultar, por que negam o acesso à AIEA e por que estão desenvolvendo essa aparente limpeza em Parchin?", indagou o representante americano. "A história não me faz otimista em relação a um possível acordo", acrescentou Wood em declarações à imprensa.
A UE, por sua parte, assegurou que diante da próxima rodada de negociações entre Teerã e o chamado grupo P5+1 (os cinco Estados-membros permanentes com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha) em Moscou é "preciso urgentemente que o Irã aplique medidas de criação de confiança incondicional prévias".
O objetivo do encontro na capital russa é avançar em direção a uma possível solução dialogada para este conflito atômico.
O analista Mark Hibbs, analista nuclear do "think tank" Carnegie Endowment for International Peace, assinalou nesta quarta à agência Efe que as palavras de Soltanieh "não são representam boas notícia, ainda mais faltando menos de duas semanas para esta crucial reunião de Moscou".
"O Irã está deixando claro que seguirá com sua postura desafiante", advertiu o renomado analista americano.
(Efe / Folha Online, 06/06/2012)