Uma autoridade do governo chinês demandou nesta terça-feira (5) que as embaixadas estrangeiras no país parem de divulgar informações sobre a poluição do ar, afirmando que tais ações são contrárias a leis e convenções diplomáticas. O recado é especialmente direcionado para a embaixada norte-americana.
O nível da poluição do ar na capital chinesa varia, dependendo das condições de vento, por exemplo, mas todos os dias um coquetel de emissões de fuligem, gases, poeira e aerossóis cobre a cidade como um lençol bege.
Muitos residentes não acreditam nas leituras oficiais, que classificam muitas vezes a poluição como “branda”.
A embaixada dos Estados Unidos em Pequim instalou um ponto de monitoramento em seu telhado que divulga a cada hora a qualidade do ar através do Twitter. Os consulados norte-americanos em Xangai e Guangzhou oferecem o mesmo serviço.
Apesar da China ter anunciado que melhorou os padrões de monitoramento da qualidade do ar em janeiro, os dados oficiais muitas vezes são distantes dos publicados pela embaixada dos EUA.
Especialistas chineses criticam o método de monitoramento da embaixada, que só tem um ponto de coleta de amostras, como não sendo científico.
O ministro interino de Meio Ambiente, Wu Xiaoqing, foi além, afirmando que as medições estrangeiras são ilegais e devem parar. Porém, ele não citou abertamente os Estados Unidos.
“De acordo com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (...) diplomatas estrangeiros devem respeitar e seguir as leis locais e não podem interferir em assuntos internos”, declarou Wu em uma coletiva de imprensa.
“O monitoramento e a divulgação das informações sobre a qualidade do ar na China envolvem o interesse público e é de responsabilidade do governo. Consulados estrangeiros na China estão assumindo essa função, o que não apenas vai contra a Convenção de Viena (...) como viola regras de proteção ambiental relevantes.”
O porta-voz do ministério de Relações Exteriores, Liu Weimin, pediu para que as missões diplomáticas respeitem as leis chinesas e parem de divulgar as leituras “especialmente na Internet”.
“Se as embaixadas estrangeiras querem coletar esse tipo de informação para a sua própria equipe e diplomatas, não há problemas. O que não podem é divulgar esses dados para o mundo”, disse Liu.
A embaixada norte-americana reconheceu em seu site que o equipamento que possui não pode monitorar o ar de toda a Pequim e, assim, não pode ser considerado uma leitura da qualidade do ar para a cidade inteira.
Apesar das críticas, Wu reconheceu que a qualidade do ar e a situação ambiental na China ainda é bastante precária, com mais de 10% dos rios monitorados sendo considerados altamente poluídos, por exemplo.
“O que precisa ser salva é a qualidade do ar, não a cara do governo. As autoridades ambientais devem parar de criticar e começar a agir para lidar com esse problema”, afirmou Zhou Rong, ativista do Greenpeace.
(Por Ben Blanchard, com tradução de Fabiano Ávila, Reuters / Instituto CarbonoBrasil, 05/06/2012)