Novos dados de estações de monitoramento no Ártico revelaram que a concentração de dióxido de carbono na atmosfera ultrapassou as 400 partes por milhão (ppm) no Hemisfério Norte. De acordo com cientistas, esse nível é o maior já registrado nos últimos 800 mil anos – ou até mais do que isso.
Além dos níveis registrados no Ártico, o Alasca, a Groenlândia, a Islândia, a Mongólia e a Noruega também indicaram concentrações acima das 400 ppm; mas como a concentração é diferente de região para região e os níveis devem baixar um pouco no verão porque nessa época as plantas absorvem mais CO2, os pesquisadores calculam que a concentração média mundial deve ficar em torno de 395 ppm.
No entanto, os cientistas acreditam que essa taxa deve aumentar logo, ultrapassando as 400 ppm brevemente. “O fato de que são 400 é significativo. É apenas um lembrete para todos de que não resolvemos isso, e ainda estamos em perigo”, comentou Jim Butler, diretor de monitoramento global do Laboratório de Pesquisas de Sistemas da Terra da Administração Atmosférica e Oceânica Nacional (NOAA) dos EUA.
Antes da Revolução Industrial, o nível de dióxido de carbono na atmosfera ficava entre 275 ppm e 280 ppm, e por mais de 60 anos esteve estabilizado em 300 ppm – um pouco mais nas áreas urbanas.
Mas com o grande crescimento na queima de combustíveis fósseis, essa concentração aumentou rapidamente, ultrapassando há alguns anos o limiar de 350 ppm, que muitos cientistas dizem ser o limite para um nível seguro de concentração de CO2 na atmosfera. Acima desse limiar, a concentração de carbono pode levar a mudanças climáticas como enchentes e secas mais intensas, tempestades mais frequentes etc.
“É um limiar importante. É uma indicação de que estamos em um mundo diferente”, observou Chris Field, ecologista do Instituto Carnegie, integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Com as crescentes emissões de CO2 na atmosfera, os pesquisadores afirmam que é cada vez menos provável que os países consigam limitar o aquecimento global aos dois graus indicados como sendo o limite seguro. Na última semana, a Agência Internacional de Energia noticiou que as emissões de carbono bateram seu recorde em 2011, chegando a 31,6 bilhões de toneladas.
“A notícia de que algumas estações mediram concentrações acima de 400 ppm na atmosfera é mais uma evidência de que os líderes políticos do mundo – com poucas exceções honrosas – estão falhando catastroficamente no combate à crise climática. A história não os entenderá ou perdoará”, lamentou Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA e defensor de ações contra as mudanças climáticas.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 01/06/2012)