Dos 496 municípios gaúchos, apenas 38 não pediram socorro nos últimos 20 anos
Um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sobre duas décadas de desastres naturais transforma em números o que os agricultores gaúchos sentem na pele e no bolso.
O relatório, divulgado pelo Ministério da Integração Nacional, mostra que o Rio Grande do Sul é líder em notificações de situação de emergência: foram 4.924. Destas, 2.643 (64%) por estiagem. São mais de 2,1 milhões de afetados em 457 municípios.
Situado em uma zona de convergência de massas polares e equatoriais, o Rio Grande do Sul têm sofrido sistematicamente efeitos do encontro ou das oscilações dessas massas – seja períodos de seca, ou inundações repentinas. Também por isso, a Região Sul como um todo tem sido alvo de desastres naturais.
Na opinião do chefe da comunicação da Defesa Civil estadual, major Ari Ferreira, esses extremos climáticos deixam o Estado em alerta permanente, pois, quando termina a seca, já se inicia a chuva em demasia.
Desde o início do ano, 390 municípios gaúchos decretaram situação de emergência em função da estiagem, além de três decretos coletivos, em nível estadual. Atualmente, são 35 cidades com decreto ativo. Distribuição de água potável, filtros, caixas d’água e cestas básicas estão entre as ações da Defesa Civil nesses casos.
— Muitos agricultores pressionam os municípios para que haja essa documentação. Assim, podem renegociar suas dívidas no banco, em razão das perdas nas lavouras — explica Ferreira.
Desertificação é um dos riscos
Professor de climatologia da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Julio Marques pondera que os efeitos desses períodos prolongados de seca geram mais danos repentinos no Rio Grande do Sul que em estados do Nordeste, habituados a períodos de seca e de chuva bem regulares.
— Naquela região há uma estiagem natural, portanto não causa tanto impacto quanto aqui no Sul. Um mês de estiagem no RS causa mais perdas do que um ano inteiro de seca no Nordeste, onde não há produção agrícola forte — compara o especialista.
De acordo com o coordenador do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres da UFSC, professor Antônio Edésio Jungles, as estiagens vividas no Estado devem ser tratadas com atenção não somente pela perda financeira de lavouras e rebanhos, mas pela pontualidade dessa condição climática que acarreta áreas em processo de desertificação.
— Se não houver uma contenção desse processo, podemos acabar da mesma forma que o Nordeste — afirma.
A estratégida do governo do Estado é facilitar o crédito para a construção de açudes e sistemas de irrigação. Lançado recentemente, o programa Mais Água, Mais Renda disponibilizou R$ 1 bilhão para este tipo de projeto. Desse montante, o Estado subsidiará R$ 225 milhões, além de prometer celeridade na concessão de licenças para as obras.
(Por Luisa Medeiros, com colaboração de Leandro Becker, Marielise Ferreira e Roberto Witter, Zero Hora, 25/05/2012)