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incêndios florestais queimadas rppns
2012-05-30 | Alarico

Treinamento é realizado com a comunidade local para ensinar como combater o fogo e prevenir as grandes queimadas

A época da seca se aproxima no Planalto Central e com ela surge a preocupação com os impactos do fogo sobre a biodiversidade do Cerrado. A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza – que administra a Reserva Natural Serra do Tombador, localizada em Cavalcante (GO), uma das maiores Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) do bioma – está trabalhando para prevenir e minimizar o problema. Para isso, a instituição conta com uma importante aliada: uma brigada voluntária comunitária de combate a incêndios, pioneira na região de Cavalcante.

O treinamento que oficializou a formação da Brigada Voluntária Comunitária da Reserva Natural Serra do Tombador e Vizinhos do entorno foi realizado nos dias 21 e 22 de maio, na própria Reserva, em parceria com a Coordenação Geral de Proteção Ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CGPro/ICMBio). O instrutor foi José Fernando dos Santos Rebello que é analista ambiental do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros/ICMBio.). A Reserva Natural Serra do Tombador é a primeira RPPN no Brasil a firmar uma parceria com o CGPro para treinamento de combate a incêndios.

Participaram 22 pessoas, sendo 5 da equipe da Reserva e 17 moradores de propriedades e fazendas da região. “Nós da equipe da Reserva fomos até nossos vizinhos e convidamos para esse treinamento aqueles que tinham interesse em integrar a brigada. Isso porque o objetivo sempre foi unir a comunidade em prol da conservação da natureza”, ressalta a administradora da Reserva Natural Serra do Tombador, Daniele Gidsicki. Ela explica que os participantes foram treinados por meio de aulas teóricas e práticas, para prevenir e combater incêndios.

“Em relação às ações de combate, o objetivo é unir esforços para evitar a  propagação do fogo na região. Quando houver qualquer foco de incêndio, a brigada será acionada imediatamente. Tanto a equipe da Reserva ajudará a apagar os focos de incêndio nos vizinhos, quanto eles contribuirão no combate ao fogo que porventura chegue à Reserva”, diz Gidsicki.

Ela também destaca a importância das ações de prevenção abordadas no treinamento, “No entorno da Reserva, existem diversas propriedades nas quais são realizadas atividades em que a queima controlada se faz necessária em alguns momentos, mas é importante que, nesses casos, o fogo seja utilizado de forma consciente, para que não se alastre pela vizinhança”, afirma.

José Paulo Nunes de Oliveira, fazendeiro e vizinho da Reserva, participou do treinamento e disse ter aprendido várias técnicas de como apagar o fogo e também de como colocar o fogo da forma certa. “Também aprendemos a fazer o aceiro para impedir que o fogo se alastre”, comenta.

Oliveira disse ainda que ele mesmo já precisou usar o fogo em sua propriedade, mas que agora aprendeu a fazer da maneira e na época certa. “Antes a gente colocava fogo sem dar importância e sem perceber o mal que estávamos causando. Temos que preservar a natureza. É muito importante”, conclui.

O instrutor Rebello também percebeu em outros alunos esse entendimento da necessidade de conservação e controle do fogo. “Muitos, inclusive, comprometeram-se a envolver outros vizinhos nos treinamentos do ano que vem”, afirma Rebello.

Proteção da biodiversidade
A administradora da Reserva Natural Serra do Tombador explica que a formação da brigada voluntária faz parte de um programa mais amplo da Reserva de manejo do fogo, que inclui outras capacitações, ações de sensibilização da comunidade, monitoramento, pesquisa, entre outros. “O nosso objetivo é reduzir o risco de incêndios que possam comprometer a biodiversidade do local, já que a Reserva foi criada justamente para conservar a natureza ali presente, além de garantir a segurança das pessoas e a manutenção da infraestrutura”, afirma Gidsicki.

A Reserva Natural Serra do Tombador é a maior RPPN do estado de Goiás, com 8,7 mil hectares. Ela está localizada ao norte goiano, a cerca de 90 km do centro de Cavalcante, no sentido para Minaçu. Em linha reta, a Reserva se encontra a 24 km do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, mas engloba formações vegetais, relevo e componentes da fauna e flora diferentes das existentes no Parque. “A RPPN também tem amostras de quase todos os tipos de ambientes característicos do Cerrado, o que reforça sua importância na conservação do bioma, complementa Gidsicki.

Fogo natural e fogo “botado”
O instrutor Rebello esclarece que o fogo pode ser considerado um distúrbio normal do Cerrado quando é causado por raios, o que geralmente ocorre no início ou final da época das chuvas.

Os fogos “naturais” ocorrem em áreas pequenas, e são apagados pela própria chuva, não se propagando por grandes extensões em função da maior umidade presente no solo e na matéria orgânica deposta sobre o solo. Este fogo natural é benéfico, pois após a passagem da queimada a presença das cinzas e da água das chuvas permite que os nutrientes sejam incorporados ao solo. É época também em que os organismos do solo estão ativos, ajudando no processo de incorporação destes nutrientes ao solo.

Por outro lado, o fogo por origem humana (chamado “fogo botado”) pode ser criminoso ou também resultado  da queima de áreas de pastagem e cultivo. Quando é estimulado em épocas de seca (que começa em geral no início de junho e vai até outubro/novembro) há um sério perigo de ele se alastrar para as áreas naturais e de ser devastador. Geralmente, alcança intensidades e temperaturas que destroem o banco de sementes do solo, e se espalha por grandes áreas, sendo difícil seu controle. Assim, o solo se torna cada vez mais pobre, e a diversidade de vida diminui.

“O fogo botado queima a biodiversidade do Cerrado. Ele atinge inclusive plantas e ambientes que não toleram o fogo, e que estão se tornando cada vez mais raros”, alerta Rebello.

Sobre a Fundação Grupo Boticário
A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador do Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já doou quase U$ 11,3 milhões para 1.282 projetos de 448 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país.  Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Projeto Oásis. Na internet: www.fundacaogrupoboticario.org.br,www.twitter.com/fund_boticario e www.facebook.com/fundacaogrupoboticario.

(Maria Luiza Campos, Texto recebido por E-mail, 30/05/2012)
marialuiza@nqm.com.br


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