Indígenas que se opõem a construção de uma estrada, financiada em parte pelo Brasil, na reserva ecológica da região amazônica da Bolívia, retomaram sua marcha nesta segunda-feira para La Paz, depois de terem percorrido a metade de um percurso de 600 km, sem conseguir um diálogo com o governo, informou a organização em um comunicado de imprensa.
A marcha de cerca de 200 pessoas atravessou sem incidentes a aldeia Yucumo, 320 km ao norte de La Paz, onde confrontos eram temidos, já que a cidade é um reduto eleitoral do presidente Evo Morales, indígena de esquerda.
"A marcha em defesa do Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS) passou nas primeiras horas desta segunda-feira por Yucumo Beni sem problemas", afirmou a Confederação Indígena de Povos do Oriente da Bolívia (CIDOB), a principal organização que apoia o movimento.
Os índios rejeitam a construção da estrada, pois consideram que causará danos ambientais graves ao TIPNIS, enquanto o poder Executivo defende a integração da estrada que conta com um crédito de 332 milhões de dólares do BNDES.
A marcha fez uma parada na cidade de Chaparina (7 km ao norte de Yucumo) na semana passada para pedir um diálogo com o governo, mas o ministro do Interior, Carlos Romero, rejeitou o apelo ao acusar as lideranças indígenas de adotarem posições políticas.
Os índios iniciaram a caminhada em 27 de abril na cidade de Trinidad, capital do departamento amazônico de Beni, a 600 km de La Paz. Esta é a segunda manifestação do tipo em sete meses contra o projeto do presidente Morales de construir a estrada de 300 km que atravessará o TIPNIS.
Os índios devem levar mais um mês para chegar ao destino final, e ainda resta o trecho mais difícil, que cruza a aldeia pró-governo de Caranavi, 600 metros acima do nível do mar, para que depois chegue a La Paz, 3.600 metros acima do nível do mar.
Antes de chegar à sede do Governo, precisam atravessar a Cordilheira dos Andes, por uma estrada pavimentada a 4.000 m de altura.
(AFP / Terra, 28/05/2012)