O Brasil continua atrasado em relação a outros países no que se refere à implementação de políticas públicas na área da conservação e eficiência energética.
Verificam-se perdas importantes na transmissão elétrica, relatadas por comissão especial do Tribunal de Contas da União (TCU), da ordem de 17% (enquanto na Europa e EUA este valor é em torno de 5%), com o uso ineficiente dos chuveiros elétricos (atendem mais de 80% dos domicílios), que representam 7% de todo consumo nacional de eletricidade e mais de 18% do pico de demanda, e que poderiam ser trocados pelo aquecimento solar, e com motores e eletrodomésticos de baixas eficiências.
Assim, existe um grande potencial de economia de energia que se poderia alcançar com soluções já existentes.
O Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf) lançado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em outubro de 2011 (portaria 594/MME), apesar do bom diagnóstico realizado da situação atual, tem metas e propostas pífias (redução de 10% no consumo total) do que se espera para um país da importância do Brasil, dentro do contexto das mudanças climáticas, em que a cadeia produtiva da energia é a vilã e a que mais emite gases de efeito estufa.
Ainda prevalecem idéias e conceitos retrógrados do século passado no que se refere à oferta de energia. Para os gestores públicos (e os empreiteiros, é claro) a única forma de ofertar mais energia para o país é construindo mega-hidrelétricas na região Amazônica, termelétricas a combustíveis fósseis e usinas nucleares. Não se leva em conta que usando melhor e introduzindo novas tecnologias, também se pode “gerar” energia elétrica e disponibilizar no sistema elétrico nacional.
Um dos casos mais evidentes e emblemáticos da pouca visão dos gestores reside na questão da iluminação pública. É estimado que em torno de 15% da energia elétrica produzida é consumida nesta modalidade. O PNEf prevê um potencial de redução na iluminação pública de 9% da demanda e na economia de energia, substituindo as lâmpadas menos eficientes por lâmpadas de vapor de sódio (LVS).
No Brasil, dos 15 milhões de pontos de iluminação existentes, em torno de 60% são LVS. No entanto, esta tecnologia está ultrapassada quando comparada com os LEDs (diodos emissores de luz), que apresentam alto rendimento, mais do que o dobro da vida útil da LVS (em média 50.000 horas, porém fabricantes falam em 100.00 horas) e um baixo consumo de energia elétrica, de até 50% menor às de vapor de sódio, proporcionando assim uma redução significativa do consumo, em particular no pico da demanda do setor elétrico.
Apesar de ainda ter um preço inicial de aquisição superior às LVS, é necessário considerar que os LEDs possuem um baixo custo de manutenção, visto que seriam substituídos a cada 12 anos (considerando o uso em média de 11 a 12 horas ao dia, com tempo de vida de 50.000 horas), e baixo consumo de energia, o que levaria ao longo de sua vida útil a um custo menor que o das LVS.
Outros benefícios podem ainda ser destacados, como a não emissão de radiação ultravioleta, evitando a atração de insetos à luminária e sua degradação, contribuindo para redução dos custos da manutenção; maior resistência a impactos e vibrações; e contribuição para a redução da poluição luminosa com iluminação direcionada.
Na iluminação das vias públicas, os LEDs apresentam mais uma vantagem, a reprodução das cores com mais eficiência e qualidade, o que favorece a visualização das informações apresentadas nas vias públicas, tais como sinalização de trânsito, de advertência, de localização etc.
Devido à baixa tensão dos LEDs, que trabalham com tensões e correntes contínuas, é possível a conexão às baterias eletroquímicas, dispensando o auxílio da rede elétrica. Com isso, possibilita aos atuais projetos para iluminação em vias públicas a integração de uma fonte eólica e/ou fotovoltaica aos postes de luz, tornando possível prover iluminação aos municípios e rodovias que ainda não possuem linhas de transmissão, e mesmo aquelas que já possuem.
O estímulo à pesquisa e inovação desta fonte luminosa levou o laboratório SENDES/UFPE a desenvolver uma luminária denominada LUMISOL (www.lumisolcaa.blogspot.com.br), que reúne além da tecnologia LED uma alimentação com eletricidade solar fotovoltaica. Este se configura como um dos muitos exemplos neste Brasil afora de desenvolvimento de produto nacional com valor agregado.
Apesar da miopia dos gestores encastelados, que pouco dialogam com a academia e os centros de pesquisa no país, o desenvolvimento tecnológico e a inovação existem e permitem soluções viáveis, simples e com alto grau de maturidade.
(Por Heitor Scalambrini Costa e Silvio Diniz*, Correio da Cidadania, 24/05/2012)
* Heitor Scalambrini Costa e Silvio Diniz são integrantes do departamento de Soluções em Energia e Design (SENDES) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).