Há quase 30 anos, vazamento de gases numa fábrica em Bhopal, na Índia, matou milhares de pessoas e causou o pior acidente industrial da história. O local permanece contaminado. A Índia eliminará lixo tóxico na Alemanha
As consequências da catástrofe ainda ecoam nos dias de hoje. Quando, em 1984, uma fábrica da empresa química norte-americana Union Carbide, em Bhopal, na Índia, deixou vazar para a atmosfera entre 20 e 40 toneladas da substância altamente tóxica isocianato de metila, 3.500 pessoas das favelas próximas morreram imediatamente. Até 2007, mais de 15 mil outras morreram em consequência do desastre, de acordo com o governo indiano. Segundo outras fontes, a cifra real foi o dobro.
Mais de 27 anos após esse acidente devastador, 346 toneladas de resíduos altamente tóxicos ainda contaminam o terreno ao redor da fábrica, que pertence desde 1999 ao grupo norte-americano Dow Chemicals. A eliminação dos resíduos contaminados é difícil. Especialmente a questão sobre o destino para os resíduos provocou um intenso debate na Índia.
O governo do estado indiano de Madhya Pradesh, onde se situa Bhopal, queria enviar os dejetos para a Alemanha. Membros do governo indiano preferem que o lixo seja levado para as centrais de eliminação de resíduos de Pithampur, a 200 quilômetros de Bhopal. No final, a Suprema Corte da Índia determinou que o governo indiano tome rapidamente uma decisão.
Ajuda da GIZ
Um grupo de ministros se disse agora a favor da eliminação do lixo na Alemanha, com auxílio da Agência Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ). Para isso, foram liberadas 97,5 milhões de rupias (1,5 milhão de euros). Já discutimos com a GIZ sobre o assunto. "A eliminação deve começar em breve", afirma, otimista, Babulal Gaur, secretário do governo estadual de Madhya Pradesh responsável pelas providências relacionadas à catástrofe de Bhopal.
Na Alemanha, há uma indústria crescente de gestão de resíduos. As empresas importam grandes quantidades de resíduos tóxicos de todo o mundo. "A Alemanha é um dos maiores importadores de lixo tóxico", observa Sundar Raman, cientista especializada em meio ambiente do Institute of Science Education and Research Bhopal, em entrevista à Deutsche Welle. "O país tem um grande know-how técnico. Seja baterias chumbo-ácidas ou amianto, tudo é eliminado aqui."
Alívio para moradores
Ativistas e moradores de Pithampur receberam a decisão do governo indiano com alívio. "Fico feliz que os resíduos tóxicos sejam eliminados em outro lugar", diz Pradeep Kumar, do Centro de Proteção Ambiental, Pesquisa e Desenvolvimento. "Somos contra a eliminação em Pithampur. A instalação ainda não é plenamente operacional, e a tentativa de queimar resíduos tóxicos nela poderia causar uma nova catástrofe."
Muitos moradores de Pithampur também protestaram contra o plano inicial do governo indiano. Eles argumentaram que sua cidade não tem instalações para eliminação de resíduos tóxicos, e que a incineração dos resíduos poderia pôr em risco a saúde de centenas de milhares de pessoas.
"É bom que isso não aconteça em Madhya Pradesh", concorda o ativista Rachna Dhinga. "Mas as autoridades também devem ter cuidado ao transportar o lixo tóxico de Bhopal para o porto", ressalva. A GIZ já propôs que o transporte de resíduos tóxicos seja por via aérea, até uma empresa de gestão de resíduos em Hamburgo.
Para as vítimas do acidente e suas famílias, a eliminação dos resíduos tóxicos trará pouco consolo. Milhares continuam à espera de tratamento médico para doenças causadas pelo desastre. E a cada ano ainda ocorrem morte em consequência do acidente.
(Deutsche Welle / Terra, 24/05/2012)