Um novo estudo publicado neste domingo (20) no periódico Nature Geoscience revela que fontes de metano antigo foram encontradas na região ártica, e que estas fontes estão liberando grandes quantidades do gás na atmosfera. O resultado disso pode gerar uma contribuição para o aquecimento global, e acelerar ainda mais o aparecimento dos efeitos das mudanças climáticas.
Os resultados da pesquisa, liderada pela cientista Katey Walter Anthony, foram obtidos através de pesquisas de campo em geleiras de bacias sedimentares no Alasca e na Groenlândia. Através dessa análise, os pesquisadores descobriram que, com o atual derretimento das geleiras árticas, há mais de 150 mil pontos de vazamento do metano.
Analisando amostras desse gás, os cientistas chegaram à conclusão de que boa parte dele que está sendo emitida para a atmosfera é antiga, e estava estocada no gelo há milhares de anos. A outra parte é constituída de um metano mais recente, provavelmente formado a partir da decomposição de material vegetal dos lagos árticos.
De acordo com os resultados do estudo, a região ártica está emitindo de 50% a 70% mais metano do que o estimado anteriormente.
“Se isso se confirmar em outras regiões onde as bacias sedimentares estão atualmente cobertas por permafrost, geleiras e mantas de gelo, como o noroeste da Sibéria, rica em gás natural e parcialmente sustentada por um gelo fino que deve se degradar significativamente até 2100, um grande aumento no ciclo de carbono e metano acontecerá, com implicações potenciais para o aquecimento climático”, alertaram os autores.
A questão é que, com o vazamento deste metano, o clima esquentará, o que causará um maior derretimento das geleiras e, consequentemente, mais liberação de metano.
“O Ártico é a região que aquece mais rapidamente no planeta, e tem muitas fontes de metano que aumentarão as elevações de temperatura. Isso é ainda outra preocupação séria: o aquecimento alimentará o aquecimento”, comentou Euan Nisbet, da Universidade de Londres.
Para os cientistas envolvidos no estudo, as descobertas foram importantes, pois confirmam que há vazamentos de metano no Ártico, de onde provêm estes vazamentos e qual é a origem do gás. “Esse estudo tem muito mais nuances do que o que já foi feito [anteriormente]”, observou Carolyn Ruppel, da Pesquisa Geológica dos EUA.
“Ninguém já havia mostrado que isso estava ocorrendo ou que isso era um fenômeno generalizado. Esse trabalho realmente é a primeira vez em que vemos com evidências de campo que esse tipo de metano geológico está escapando dos estoques de criosfera”, acrescentou a principal autora a pesquisa.
Apesar das descobertas, os cientistas declararam que é difícil prever se tal liberação de metano vai alterar imediatamente o clima ou se os efeitos demorarão a ser sentidos. Para responder a essa dúvida, os pesquisadores pretendem analisar como o metano é capturado e estocado nas geleiras e qual é o padrão pelo qual elas derretem.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 22/05/2012)