O Greenpeace entregou, na tarde desta quarta-feira, uma denúncia ao Ministério Público Federal do Maranhão sobre as ilegalidades encontradas na cadeia de produção do ferro gusa no Estado.
Estavam presentes o padre Dário Bossi, coordenador da rede Justiça nos Trilhos e Rosana Diniz, do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e Edmilson Pinheiro, do Fórum Carajás. A denúncia também será encaminhada ao MMA (Ministério de Meio Ambiente), MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), além da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados.
A partir de uma pesquisa de dois anos, o Greenpeace identificou uma série de irregularidades e desrespeito à legislação na cadeia produtiva do ferro gusa no Brasil, como trabalhadores em situação análoga à escravidão e extração de madeira dentro de Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Estas denúncias foram compiladas no relatório “Carvoaria Amazônia”, publicado nesta semana pela organização.
“Algumas empresas da região onde se concentram as denúncias já respondem a uma ação civil pública, porque o carvão que utilizam não têm certificado de origem”, disse o procurador da República Alexandre Soares, nesta tarde. “Esse trabalho (do Greenpeace) permite aprofundar a investigação, em que teremos de responder qual é a origem do carvão e o nome das pessoas envolvidas.”
Principal matéria-prima do aço, o minério de ferro se transforma em ferro gusa dentro de fornos alimentados por carvão vegetal. Parte deste carvão é proveniente do desmatamento ilegal da floresta. O ferro gusa brasileiro é exportado, principalmente, para a indústria automobilística dos Estados Unidos.
“O ferro gusa está deixando um rastro de destruição e violência na Amazônia. Desmatamento ilegal, trabalho análogo à escravidão e invasão de territórios indígenas estão na ponta da cadeia desta matéria-prima”, disse Tatiana de Carvalho, da campanha Amazônia do Greenpeace. “Nas vésperas da votação da PEC do trabalho escravo em Brasília, é preciso que o governo volte seus olhos a estes rincões do país.”
Protesto
Desde segunda-feira, ativistas do Greenpeace bloqueiam, na baía de São Marcos, a 20 quilômetros da costa de São Luís (MA), o navio Clipper Hope. O cargueiro se preparava para atracar no porto de Itaqui e receber mais de 30 mil toneladas de ferro gusa.
Contratado pela Siderúrgica Viena, apontada no relatório do Greenpeace como uma das empresas envolvidas nas irregularidades da cadeia da matéria-prima do aço, o Clipper Hope levaria o carregamento para os Estados Unidos.
Em esquema de revezamento constante, os ativistas escalam a âncora do cargueiro para evitar que o navio manobre até porto. Na manhã de hoje, foi o diretor da campanha Amazônia do Greenpeace, Paulo Adario, quem esteve a seis metros da água, pendurado na corrente. Em março, Paulo Adario foi nomeado como herói das florestas pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Os ativistas do Greenpeace estão a bordo do navio Rainbow Warrior, em expedição pelo Brasil para a campanha do Desmatamento Zero.
(Greenpeace, 16/05/2012)