Ferramenta online integra vários tipos de dados, incluindo 150 milhões de registros de ocorrência de espécies, e busca disponibilizar a visualização do conhecimento atual sobre a distribuição geográfica da biodiversidade em escala global
Conhecer as espécies que se deseja proteger e as suas relações com o meio é o primeiro passo para conseguir conter a atual degradação em massa dos ecossistemas ao redor do mundo. Até agora, a humanidade conseguiu descrever apenas 1,8 milhões de espécies, das quais 33% estão ameaçadas de alguma forma.
Estimativas indicam que o mundo abriga entre 10-100 milhões delas, fato preocupante por estarmos extinguindo espécies que ainda não conhecemos, mas também fascinante, motivando pesquisas e explorações de ambientes isolados em todo o mundo.
Pensando nisso, pesquisadores norte-americanos e canadenses construíram uma inovadora ferramenta online que visa mobilizar e integrar vários tipos de dados, desde registros únicos de ocorrência em coleções de museu até análises de especialistas encontradas em guias de campo.
O objetivo é que seja possível a visualização do conhecimento atual disponível sobre a distribuição da biodiversidade ao redor do mundo. O 'Mapa da Vida' está agora sendo lançado em uma versão demo, aberta a sugestões.
Neste primeiro momento de demonstração, é possível explorar a distribuição geográfica global de várias espécies de vertebrados, além de peixes de água doce da América do Norte, contando com 150 milhões de registros de ocorrência do Global Biodiversity Information Facility (GBIF), mapas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), listas do World Wildlife Fund (WWF) e banco de dados de vários cientistas.
Através de camadas distintas nos mapas, que podem ser ajustadas de acordo com a finalidade, são apresentados registros como pontos de ocorrência, abrangência e dados específicos de determinadas áreas de estudo (como reservas e regiões). Também é possível obter listas de espécies nos arredores de qualquer área de interesse ao redor do mundo. Dois vídeos (em inglês) demonstram as ferramentas de busca taxonômica e a lista de espécies.
Em breve, o portal pretende abranger também plantas e invertebrados, além de ampliar as funcionalidades, como adicionar filtros de informações com características como sazonalidade e data de observação; possibilitar edição e adição de dados, além da sua intersecção com outras informações ambientais (uso da terra, clima) e o cálculo, demonstração e download de padrões como riqueza e endemismo, entre outros.
A meta de médio e longo prazo é obter um sistema de modelagem incluindo dados ambientais para a produção de estimativas mais refinadas da distribuição atual e projetada de espécies.
Aideia para a criação da ferramenta surgiu do pesquisador em Biologia da Conservação da Universidade de Yale, Walter Jetz, a partir da sua necessidade de combinar dados próprios com outros já existentes para melhor compreender como padrões de biodiversidade de aves poderiam embasar esforços de conservação.
O conhecimento global sobre a distribuição espacial de espécies é muito mais complexo de se estruturar geograficamente do que outros bancos de dados, como topografia ou uso da terra, comentaram os autores do Mapa da Vida no artigo 'Integrando o conhecimento da distribuição da biodiversidade: em direção a um mapa global da vida’, publicado na revista Trends in Ecology and Environment.
Uma barreira a ser superada pelo Mapa da Vida é a aceitação da comunidade científica internacional, já que a possibilidade de inserção de dados de locais e grupos de pesquisa distintos traz consigo uma diversidade de protocolos utilizados.
Geogina Mace, Bióloga de populações do Imperial College London, acredita que por esta razão existe um pouco de ceticismo, porém que o estilo 'Wikipédia' do Mapa da Vida, permitindo que a comunidade aprimore os dados, dará confiança aos usuários.
"Ter esta atualização dinâmica da base de dados é realmente importante; do contrário ficará estagnado e ninguém acreditará mais", adicionou Mace em entrevista à revista Nature.
(Por Fernanda B. Müller, Instituto CarbonoBrasil, 14/05/2012)