Relatório da Associação Europeia da Indústria Fotovoltaica revela que capacidade instalada de energia solar deve crescer mundialmente entre 200% e 400% até 2016, e mercados emergentes podem ultrapassar liderança europeia no setor
Em se tratando de energia solar, a Europa sempre foi a principal líder do mercado, e só no ano passado foi responsável por 75% das instalações de solar fotovoltaica mundiais. Mas esse cenário está mudando, e novas lideranças podem surgir nessa indústria para competir com a hegemonia europeia. Pelo menos é o que sugere o novo relatório da Associação Europeia da Indústria Fotovoltaica (EPIA) publicado nesta semana, que afirma que essa nova configuração está seguindo as transformações na demanda global por energia.
De acordo com o documento Panorama do Mercado Global para as Fotovoltaicas até 2016, a capacidade instalada de energia solar deve crescer mundialmente entre 200% e 400% nos próximos quatro anos, o que significa um aumento dos 69,7 GW de 2011 para 207,9 GW a 342,8 GW.
Só neste ano, espera-se que o total mundial de capacidade fotovoltaica atinja entre 90 GW e 110 GW, dependendo dos investimentos e estímulos que essa indústria receber. “O crescimento dependerá do apoio dos políticos. Não tem a ver apenas com dinheiro, mas também com reduzir a burocracia”, comentou Reinhold Buttgereit, secretário-geral da EPIA.
Nesse cenário, a Europa ainda é líder na geração de energia solar. Para se ter uma ideia, dos 29,7 GW de sistemas fotovoltaicos instalados mundialmente em 2011, 21,9 GW foram instalados no continente europeu.
Esses índices representam quase o dobro de 2010, e ocorreram principalmente devido a incentivos à produção solar. Em 2013, os índices de instalação devem ficar entre 20,6 GW e 41,4 GW, aumentando para entre 38,8 GW e 77,3 GW em 2016. “No entanto, uma taxa de crescimento tão alta não deve durar para sempre, e a indústria está agora atravessando um período de incerteza em curto prazo”, observa o relatório.
Dentro do continente europeu, Itália e Alemanha são os mercados com maior participação: em 2011, foram 9,3 GW instalados na Itália, e 7,5 GW na Alemanha, e juntos os dois países foram responsáveis por cerca de 60% do crescimento do mercado global no último ano.
Mas, segundo o documento, este panorama está mudando. O setor solar fotovoltaico tem crescido também em outras partes do mundo, como na Ásia, América Latina, Oriente Médio e norte da África, regiões que o relatório chama de “cinturão solar”.
Dentre essas regiões, a China se destaca como maior mercado não europeu, tendo instalado 2,2 GW em 2011 e ultrapassando os Estados Unidos, que instalaram 1,9 GW no mesmo período. Neste ano, estima-se que a China instale entre 3 e 5 GW, e até 2016 esse índice anual deve estar entre 4,5 e dez GW, levando a capacidade total do país para mais de 35 GW. Em 2020, o governo chinês quer que a taxa de instalação fique entre 20 GW e 30 GW anuais.
Além do rápido aumento nas instalações, o país também está se firmando no mercado como produtor de módulos solares, tendo se tornado o maior do mundo desde 2010. Esse crescimento se deve, além do enorme mercado, aos esquemas de incentivo nacionais, focados em projetos de eletrificação rural, aumento de capacidade fotovoltaica, estímulo ao mercado etc.
A Índia também tem ganhado destaque no cenário mundial, tendo instalado cerca de 300 MW em 2011. Para 2013, o governo indiano planeja a instalação de um a dois GW, aumentando essa meta para quatro a dez GW em 2017, e chegando a 20 GW ou 22 GW anuais até 2022.
Nas regiões do “cinturão solar”, a América Latina é uma das que mais apresenta potencial para a geração de energia solar fotovoltaica, embora não tenha mostrado grande atividade até agora.
Apesar disso, o relatório aponta que a combinação de economias emergentes, aumento da estabilidade política e disponibilidade de financiamento no subcontinente pode levar a uma “decolagem” nos próximos anos, e muitos países já podem produzir eletricidade fotovoltaica a um preço mais barato do que a eletricidade de rede, como é o caso do segmento residencial em El Salvador, Guiana, Suriname e várias ilhas caribenhas e do setor comercial e industrial em Belize, Brasil, Chile, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua e Panamá.
O Brasil, em especial, tem introduzido alguns incentivos nacionais ao desenvolvimento da energia fotovoltaica, como é o caso de um selo solar, iniciativas para estádios solares e novas regras para estimular a instalação de geração solar.
“A Europa dominou o mercado global fotovoltaico (PV) por ano, mas o resto do mundo claramente tem o maior potencial para crescimento”, declarou a EPIA em seu documento.
Obstáculos
Mas apesar das boas estimativas, a popularização da energia solar também pode trazer certos reveses ao mercado, especialmente aos produtores de equipamentos. Isso porque, com o aumento da concorrência, há um excesso de oferta de produtos no mercado, obrigando fabricantes a reduzirem seus preços e diminuindo suas margens de lucro.
Neste ano, os preços em toda a cadeia de suprimentos devem cair de 10% a 15%, seguindo a grande queda que tem ocorrido nos últimos anos. Essa queda nos preços levou muitas empresas solares, como as norte-americanas Evergreen Solar Inc, Solyndra e Solar Trust of America e a alemã Q-Cells, à falência.
Além disso, a crise financeira, enfrentada principalmente pela Europa e Estados Unidos, deve levar mais companhias à bancarrota neste ano, o que poderia provocar uma onda de fusões entre firmas de pequeno e médio porte em uma tentativa de se manter no mercado.
Ainda assim, o relatório vê com otimismo o desenvolvimento da energia solar e das renováveis como um todo. “As energias renováveis continuam a se mostrar como uma fonte de energia importante e um contribuinte significativo para atingir metas energéticas, ambientais e econômicas”, concluiu.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 10/05/2012)