O Palácio do Planalto anda muito preocupado com as sucessivas pipocadas de chefes de Estado importantes na Rio +20. Ontem, o francês François “Normal” Hollande e o russo Vladimir Putin confirmaram a Dilma Rousseff que virão, elevando a 99 o número de líderes na conferência. Só faltava os dois não virem: Hollande tem como plataforma eleitoral o crescimento verde e a transição para a economia de baixo carbono; Putin é aliado estratégico de Brics, não poderia deixar de vir.
O problema são os ausentes, em especial a chanceler alemã, Angela Merkel, última poderosa a dizer que não vem ao Rio, mas que falar todo dia com seu ministro do Ambiente, Norbert Röttgen, que *provavelmente* virá.
Um funcionário da ONU fofocou a este blog que Merkel não viria por causa da aprovação do Código Florestal na Câmara. A chanceler, que anda perdendo uma eleição regional atrás da outra, não queria ser vista aos olhos do público alemão associada a desmatadores (nós).
Um negociador alemão e a embaixada se apressaram a negar, claro, que a espirrada de Frau Merkel tenha qualquer relação com política interna brasileira. Mas ambos disseram que a Alemanha “acompanha com extremo interesse” os desdobramentos da novela florestal.
O real motivo da ausência provavelmente é a própria agenda da conferência, inicialmente diluída e cada vez mais sem perspectiva de um sucesso que possa ser vendido à sociedade como tal.
Seja como for, sem Merkel, Barack Obama e David Cameron, a Rio +20 está cada vez mais rumando para ser um showcase de políticas de desenvolvimento dos países emergentes. O que talvez, por outro lado, diga mais sobre o futuro do mundo do que um convescote de impérios e ex-impérios decadentes.
Mas não é só por prestígio que devemos lamentar a ausência de Angela Merkel. Ela tem tarimba em negociações ambientais internacionais. Quando ministra do Ambiente da Alemanha, em 1995, ela teve sangue-frio para fechar o acordo sobre o combate à mudança climática que gerou dois anos depois o Protocolo de Kyoto. Quem estava presente conta que foi uma sessão tensa, com consenso declarado apesar de 19 países se oporem.
A habilidade política da madame faria falta na Rio +20. Mas pelo visto ela está muito ocupada tesourando a gastança na zona do euro.
(Por Claudio Angelo, Entre Colchetes, 10/05/2012)