A desistência da premiê Angela Merkel de comparecer à Rio+20 e os impasses da negociação em Nova York, na semana passada, são um mau presságio para a conferência sobre desenvolvimento sustentável que as Nações Unidas farão em junho, no Rio de Janeiro.
A delegação alemã deve ser chefiada pelo ministro do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, e pelo ministro da Cooperação Econômica, Dirk Kniebel. Röttgen concorre este domingo pela CDU, a União Democrata Cristã, ao governo do poderoso estado da Renânia do Norte-Vestfália. É improvável que ganhe da atual governadora, Hannelore Kraft, do Partido Social Democrata. Mas, se ganhar, não virá à Rio+20, sinal evidente de que a cúpula não tem prestígio em Berlim.
A desistência de Merkel é uma bomba para o status da Rio+20. Ela se segue à desistência do premiê britânico, David Cameron, que anunciou sua ausência em março, e à provável ausência de Barack Obama, que nunca deu sinal positivo que viria. Obama está envolvido na campanha eleitoral e tem que avaliar o peso político de comparecer à cúpula em um país onde o Congresso não gosta do assunto e o eleitorado o ignora.
A ausência de Merkel tem outro peso. Ao contrário de Obama, ela lidera um país onde questões ambientais definem eleições. A alemã também foi ministra do Meio Ambiente e, na conferência do clima de Copenhague, em 2009, foi protagonista na tentativa de tornar o assunto mais relevante na agenda internacional. O fato de ela não vir ao Brasil, em junho, sinaliza que o governo do país mais "verde" do mundo não crê que da Rio+20 sairão decisões importantes.
"A situação na Europa não está fácil", disse o embaixador Stephan Auer, responsável por energia e política climática no Ministério das Relações Exteriores alemão. "Temos a crise do euro, com muitas medidas sendo tomadas e muitas reuniões que exigem o engajamento" de Merkel, afirmou. "Mas ela está acompanhando a discussão da Rio+20 muito de perto."
A líder do Partido Verde alemão, Claudia Roth, reagiu com farpas. "A ex-rainha do clima Angela Merkel aparentemente arquivou o assunto", disse, segundo a agência de notícias DPA. Uma autoridade alemã avalia que "as pessoas esperam mais do que é possível fazer no processo da ONU" e que a Rio+20 é ainda mais complexa por envolver "muitos temas e muitos atores."
Para Nils Meyer-Ohlendorf, coordenador internacional de assuntos de governança do think-tank alemão Ecologic Institute, a decisão de Merkel não quer dizer que a Rio+20 não é importante. "Mas sinaliza que o que está sendo discutido não é relevante."
A Alemanha apoia a ideia de a Rio+20 transformar o Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (Pnuma) numa agência ambiental da ONU, com o status que a OMS tem para a saúde. A proposta é rechaçada pelos EUA. O governo brasileiro não é entusiasta, preferindo a criação de um conselho de desenvolvimento sustentável.
A mais recente rodada de negociações do documento-base da Rio+20 avançou modestamente em Nova York, na semana passada. Os negociadores pediram mais prazo e ganharam mais uma semana, entre 29 de maio e 2 de junho. "Há uma possibilidade que não se chegue a acordo nenhum na Rio+20", diz Meyer-Ohlendorf.
(Por Daniela Chiaretti, Valor Econômico / IHU On-Line, 09/05/2012)