Um novo relatório do centro de pesquisa Clube de Roma, publicado nesta terça-feira (8), afirma que as temperaturas globais podem aumentar dois graus Celsius até 2052 e 2,8 graus Celsius até 2080, fazendo com que as mudanças climáticas tenham consequências mais sérias para a humanidade.
De acordo com o documento, intitulado 2052: A Global Forecast for the Next Forty Years (2052: Uma Previsão Global para os Próximos Quarenta Anos), essas estimativas podem se confirmar se governos e mercados não tomarem atitudes para conter as mudanças globais. Infelizmente, Jorgen Randers, autor do relatório, não tem uma visão muito otimista sobre iniciativas climáticas, e acredita que dentro de 40 não será feito o suficiente para mitigar as alterações ambientais.
“Precisamos de um sistema de governança que tenha uma visão em mais longo prazo. É improvável que os governos aprovem regulamentações necessárias para forçar os mercados a investir mais dinheiro em soluções climaticamente favoráveis, e não devemos assumir que os mercados trabalharão para o benefício da humanidade”, lamentou Randers, que é professor de estratégia climática da Escola Norueguesa de Administração.
Segundo o documento, o aumento das temperaturas globais será causado pelas crescentes emissões de gases do efeito estufa (GEEs), que devem alcançar seu máximo em cerca de 20 anos. A elevação no nível das emissões, por sua vez, terá como causa o aumento do consumo e o crescimento da população mundial, que deve chegar ao máximo de 8,1 bilhões em 2040.
“Já vivemos de uma maneira que não pode ser continuada por gerações sem uma grande mudança. A humanidade tem sobrecarregado os recursos da Terra, e em alguns casos veremos um colapso local antes de 2052 – estamos emitindo duas vezes mais gases do efeito estufa a cada ano do que é absorvido pelas florestas e oceanos. Essa transposição de limites piorará e atingirá seu pico em 2030”, alertou o autor.
Tanto o aumento da população quanto do consumo deve ocorrer em países com economias emergentes, como é o caso da China, Índia, Brasil e África do Sul. Até 2052, o consumo per capita na China, por exemplo, será equivalente a pelo menos 60% do consumo dos americanos, enquanto o crescimento econômico médio de 14 nações emergentes deve triplicar nesse período.
“Esse crescimento melhorará os padrões de vida de muitos, mas terá um custo para o clima global. Enquanto o crescimento não será tão explosivo como na China, ainda será pesado o suficiente para manter as emissões dessas nações em crescimento até 2040”, comentou o professor.
Apesar desse desenvolvimento, o mundo ainda vivenciará muita desigualdade econômica, e, até a metade do século, três bilhões de pessoas no planeta ainda serão pobres. Em compensação, as economias já desenvolvidas, como os Estados Unidos e a Europa, estabilizarão ou diminuirão seu consumo, o que poderá ajudar a evitar uma exploração ainda maior de água, alimentos e petróleo nas próximas quatro décadas.
O Clube de Roma, cujos membros incluem personalidades políticas e empresariais e cientistas, analisa problemas como os limites do crescimento econômico, a pressão sobre os recursos e empregos. A organização se tornou mais conhecida e respeitada a partir de 1970, quando publicou um relatório sobre os efeitos do crescimento sem limites intitulado The Limits to Growth (Os Limites do Crescimento).
O documento de Randers foi comentado e bem avaliado por outros pesquisadores e membros do Clube.
“A análise do professor Randers de onde o mundo pode estar em 40 anos demonstrou que manter as coisas como estão não é uma opção se quisermos que nossos netos vivam em um planeta sustentável e justo. Levou 40 anos antes que a mensagem de Os Limites do Crescimento fosse apropriadamente compreendida. Não podemos permitir mais décadas perdidas”, refletiu Ian Johnson, secretário-geral do Clube de Roma.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 09/05/2012)