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rio 2012/cúpula da terra geopolítica crise ecológica
2012-04-27 | Rodrigo

A decisão dos principais Brics de negociar suas posições para a Rio+20 em conjunto com o G77, grupo que reúne 132 países em desenvolvimento, foi alvo de críticas de especialistas reunidos ontem no seminário "Desenvolvimento Sustentável e a Agenda Social dos Brics", no Palácio da Cidade, no Rio.

A avaliação é que Brasil, China e Índia usam o grupo como um "biombo" para se esconder de responsabilidades maiores em relação ao desenvolvimento sustentável. Na conferência da ONU que acontece em junho, no Rio, a posição do G77 será apresentada de forma conjunta pela presidência do grupo, atualmente nas mãos da Argélia.

"O G77 é uma amálgama muito heterogênea e desigual, que jamais vai dizer alguma coisa que comprometa os interesses desses países maiores. Então eles se escondem atrás do G77 para adiar decisões que sabem que terão que tomar com mais responsabilidade do que a maioria do G77", afirma o sociólogo e analista político Sérgio Abranches.

Ele diz que, no passado, a mesma estratégia já foi usada em conferências sobre mudanças climáticas, mas que, com o tempo, países mais vulneráveis passaram a cobrar compromissos mais firmes dos Brics, forçando-os a assumir um protagonismo maior nas negociações.

Abranches avalia, porém, que esse protagonismo dos Brics não será visto na Rio+20 porque "nenhum deles têm noção ainda dos compromissos que podem assumir internacionalmente sem fragilizar sua posição".

O professor José Eli da Veiga, do Instituto de Relações Internacionais da USP, também considera problemática a atuação dos Brics no G77. "O grande problema é que a realidade dos Brics é muito diferente da dos mais de cem países que integram o bloco, alguns dos quais sequer começaram a sociedade de consumo", diz.

"Os Brics hoje já respondem pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa. Eles não podem adotar o mesmo discurso que eventualmente poderia ser a defesa de um país que mal decolou para o crescimento."

Para Sérgio Abranches, esse contexto coloca o Brasil numa situação delicada como presidente da conferência. "Como liderar na direção de um resultado ousado se o país está na defensiva?", questionou.

Economia verde
No evento, o economista Sérgio Besserman também se mostrou cético em relação às discussões sobre a chamada economia verde, um dos temas centrais da Rio+20.

"Se por economia verde entendermos apenas alguns avanços tecnológicos em direção a uma economia com menor consumo de recursos naturais, isso é uma bobagem", disse ele, lembrando que a tecnologia também pode ser usada para baratear os combustíveis fósseis.

Para o economista, que já foi diretor do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a única maneira de forçar a transição para uma economia de baixo carbono é por meio da "precificação" dos danos causados ao planeta.

"O preço de aquecer o planeta tem que ser embutido no preço dos combustíveis fósseis. Quando isso for feito, as fontes renováveis de energia poderão assumir um papel essencial na economia", defendeu.

Outro lado
Negociador-chefe da delegação brasileira para a Rio+20, o embaixador André Corrêa do Lago rebate as críticas. "Não há nenhum motivo para que o Brasil não esteja nesse grupo de países, com os quais temos grande identidade e uma agenda muito próxima", diz.

O embaixador afirma que, uma vez que se obtém consenso no G77 acerca de um ponto, ele ganha um peso muito maior do que se fosse apresentado por um país indivualmente.

Corrêa do Lago ressalta ainda que a opção pela negociação no G77 não impede que seus integrantes defendam posições na conferência que não tenham sido alvo de consenso no grupo. "Mas seria uma questão política, de marcar posição, porque sem o apoio do G77 a ideia não vai ser aprovada", diz.

(Por Denise Menchen, Folha Online, 26/04/2012)


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