Os bancos de algas coralíneas cobrem quase 21 mil quilômetros quadrados do Banco dos Abrolhos e são responsáveis por 5% da produção mundial de carbonato de cálcio
Estudo realizado durante dois anos na plataforma continental no Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo confirmou que o Banco dos Abrolhos abriga o maior banco contínuo de rodolitos do planeta - 20.900 km² -, o que corresponde a três vezes e meia o tamanho do Distrito Federal.
O estudo, conduzido por cientistas de diversas instituições que compõem a Rede Abrolhos, uma das iniciativas do Sistema Nacional de Pesquisas em Biodiversidade (SISBIOTA) e da Conservação Internacional, foi publicado na última sexta-feira, 20, na conceituada revista científica PLoS ONE.
Com a utilização de sonar de varredura lateral, veículos submarinos de operação remota (VORs) e equipamentos de mergulho, os pesquisadores avaliaram a distribuição, extensão, composição e estrutura do banco de rodolitos no Banco dos Abrolhos.
Algumas vezes confundido com os corais, os rodolitos possuem forma arredondada e são formados por várias camadas, principalmente de algas calcárias incrustrantes.
"Encontrar o maior banco de rodolitos do mundo no Banco dos Abrolhos, no Brasil, evidencia a extrema importância desta parte do Oceano Atlântico," disse Rodrigo Moura, Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e co-autor do estudo. "Os rodolitos desempenham papel fundamental em um ecossistema marinho saudável, fornecendo habitat primário que pode abrigar diversas e abundantes comunidades de peixes e invertebrados de elevado valor comercial."
Os rodolitos constituem-se de estruturas calcárias (CaCO3 – carbonato de cálcio) bioconstruídas, o que lhes conferem uma estrutura rígida, complexa, que servem de habitats para outras espécies. Os pesquisadores também estimam que os rodolitos do Banco dos Abrolhos são responsáveis por cerca de 5% da produção mundial de carbonato de cálcio (mineral que forma a carapaça de moluscos e crustáceos e o esqueleto dos corais).
"Bancos de rodolitos como estes são gigantescas biofábricas de carbonato de cálcio e podem desempenhar um papel significativo na regulação do clima global," disse Les Kaufman, cientista marinho sênior da Conservação Internacional. "Mas para entender qual é e quão significativo pode ser o seu papel, temos que aprender mais sobre eles."
Os bancos de rodolitos enfrentam uma série de ameaças, incluindo a acidificação dos oceanos, o aumento da sedimentação de origem costeira e, em grande escala, a dragagem e a mineração. Embora a acidificação dos oceanos não possa ser controlada em uma escala regional, as outras ameaças aos bancos de rodolitos de Abrolhos merecem atenção e podem ser controladas localmente.
O Banco dos Abrolhos se estende por uma área de 46,000 quilômetros quadrados, onde a Conservação Internacional trabalha com organizações governamentais e comunitárias brasileiras para a conservação e gestão dos recursos marinhos.
“Com base na vulnerabilidade relativamente elevada das algas coralíneas à acidificação dos oceanos, é muito provável que os bancos dos rodolitos sofrerão uma profunda reestruturação nas próximas décadas," disse o autor do estudo, Gilberto M. Amado-Filho, pesquisador do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
"Considerando a produção de cerca de 25 milhões de toneladas de carbonato de cálcio por ano, a proteção e o estudo continuado da plataforma do Banco dos Abrolhos devem ser priorizados."
Além dos bancos de rodolitos, o estudo revelou também enormes áreas de fundo do mar cobertas por algas, depressões no assoalho marinho (“buracas”) povoadas por densas populações de peixes e recifes compostos por corais e algas coralíneas.
Essas novas descobertas redimensionam áreas marinhas de elevada importância ecológica, como o megahabitat rodolito, ressaltando a importância do Banco dos Abrolhos no contexto da biodiversidade e equilíbrio ecológico da porção sul do Oceano Atlântico.
(Rede Abrolhos / Instituto CarbonoBrasil, 26/04/2012)