Análise comparativa de novo estudo da Universidade da Califórnia revela que nos últimos 135 anos temperatura do mar aumentou 0,33°C em média e 0,59°C na superfície, oferecendo novas informações sobre a elevação do nível do mar
Uma pesquisa do Instituto Scripps de Oceanografia da Universidade da Califórnia (UC) em San Diego traz novos dados que poderão ajudar a esclarecer o aumento do nível do mar que ocorre desde o século XIX e alguns aspectos das mudanças climáticas. Nesta semana, a instituição apresentou um estudo que revela que o aquecimento das temperaturas oceânicas é mais antigo do que se acreditava.
De acordo com a pesquisa, publicada no periódico Nature Climate Change, a elevação das temperaturas marinhas vem ocorrendo há cerca de 135 anos, e em uma taxa duas vezes maior do que a estimada anteriormente.
Para chegar a essas conclusões, a equipe do Instituto Scripps fez uma análise comparativa entre informações coletadas atualmente pelo Programa Argo, que conta com sondas flutuantes em 3.500 pontos nos oceanos, e dados recolhidos pela expedição do navio HMS Challenger, ocorrida entre 1872 e 1876.
O exame revelou que durante esse período de mais de um século, a temperatura oceânica sofreu um aumento médio de 0,33°C, atingindo uma elevação de 0,59°C na superfície marinha (até 700 metros). Já em faixas mais profundas (abaixo de 900 metros), a temperatura subiu 0,12°C.
Mesmo com as imprecisões e os erros cometidos nas medições feitas no século XIX, como falhas nas leituras e problemas nos instrumentos, a análise possibilitou que os cientistas de hoje concluíssem que o aquecimento dos oceanos vem ocorrendo há mais tempo do que os cerca de 50 anos imaginados anteriormente, e que além disso as taxas desse aquecimento são o dobro do que o esperado.
“A importância desse estudo não é apenas que vemos uma diferença de temperatura que indica aquecimento em uma escala global, mas que a magnitude da mudança de temperatura desde 1870 é o dobro do que a observada nos últimos 50 anos. Isso sugere que a escala de tempo para o aquecimento do oceano não é apenas dos últimos 50 anos, mas pelo menos dos últimos 100 anos”, explicou Dean Roemmich, físico oceanógrafo da UC de San Diego.
Roemmich observou que os resultados do estudo ajudarão a elucidar algumas questões relacionadas às mudanças climáticas e ao aumento do nível do mar, que, entre outras causas, ocorre devido à dilatação da água que acontece quando as temperaturas sobem.
“A temperatura é um dos descritores mais fundamentais do estado físico do oceano. Além de simplesmente saber que os oceanos estão aquecendo, [os resultados] nos ajudarão a responder algumas questões climáticas. O aquecimento do oceano já foi ligado anteriormente ao derretimento glacial e ao descoramento massivo de corais”, comentou Roemmich ao portal LiveScience.
O pesquisador também acredita que as conclusões terão implicações importantes para entender a absorção de calor pelos oceanos. Estudos anteriores revelaram que a Terra tem absorvido mais calor do que está irradiando, e que 90% desse excesso de calor que está sendo acrescentado ao sistema climático desde a década de 1960 tem sido armazenado nos oceanos.
“Então isso significa que as temperaturas oceânicas são provavelmente a medida mais direta que temos do desequilíbrio energético de todo o sistema climático”, finalizou Roemmich.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 03/04/2012)