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hidrelétrica de belo monte passivos de hidrelétricas direitos trabalhistas
2012-04-17 | Rodrigo

Uma liderança grevista foi demitida e agredida por um segurança privado do consórcio. Outro, que aparecera em vídeo participando da greve em gravações internas feitas pela empresa, foi demitido e posteriormente preso sem explicação pela Polícia Militar

O Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), responsável pelas obras da terceira maior usina hidrelétrica do planeta, na região de Altamira (PA), demitiu ao menos 60 operários que participaram da última greve que paralisou a obra por sete dias, entre os dias 5 e 12 de abril.

Uma liderança grevista foi demitida e agredida por um segurança privado do consórcio. Outro, que aparecera em vídeo participando da greve em gravações internas feitas pela empresa, foi demitido e posteriormente preso sem explicação pela Polícia Militar – segundo os trabalhadores, chamada pelo consórcio, enquanto dormia em um dos alojamentos do CCBM.

Segundo depoimento de trabalhadores, cinco teriam sido demitidos porque assinaram ata de fundação de uma Associação de Operários, conforme diz um documento que teria sido entregue ao sindicato e à direção do consórcio. Seis trabalhadores teriam sido desligados por participarem da comissão da greve. O restante teria saído por ter aparecido em filmagens realizadas por encarregados da firma.

Francenildo Teixeira Farias, carpinteiro e membro da comissão da greve, conta que foi pedir explicações no escritório do RH da empresa, e lá foi agredido. Ele teria sido demitido por ser grevista, por ter participado da fundação da nova associação e também por participar da comissão.

- Um segurança tentou tirar meu crachá de todo jeito, querendo me obrigar a assinar a quita [demissão]. Eu disse que não, que não aceitava porque não era uma demissão justa. Aí ele veio pra cima e me deu um soco na nuca – relata Francenildo, que registrou boletim de ocorrência na delegacia da Polícia Civil de Altamira.

Segundo membros da comissão, outros nomes com demissão confirmada seriam o do pedreiro Wanderson Correa, dos apontadores Fábio de Souza, Moisés Ferreira Silva, Claudevan da Silva Santos e Diego Dias Louredo. Também foram demitidos Fábio Karan e Raimundo Nonato Diniz, que não é da comissão.

Em documento assinado por trabalhadores e um de seus dirigentes, o Sindicato da Construção Pesada do Pará (Sintrapav) comprometeu-se a “assumir a responsabilidade pela comissão caso haja algum tipo de retaliação, perseguição, ou algum tipo de perca (sic) financeira”.

Pauta
O Consórcio Construtor Belo Monte nega que as demissões tenham relação com manifestações. Em nota à imprensa, divulgada na sexta-feira (13), a empresa noticiou que “diferentes pontos foram avaliados e acordados entre as partes”.

Os pontos indicados são a “instalação do Sintrapav nos canteiros”; “melhorias nas condições de transporte; melhorias no sistema de pagamento de salários – que no início do mês levou à uso de violência e a prisão de um trabalhador; e disponibilidade de sinal de celular a partir de maio.

Duas das principais pautas – o aumento da cesta-básica (que hoje é de R$ 95) e a redução dos intervalos de baixada (visita do trabalhador à sua cidade de origem) ficarão para a próxima rodada. As outras não foram citadas.

A negociação, prevista para iniciar no dia 10, foi adiada cinco vezes. O CCBM, em conjunto com o sindicato, restabeleceu uma comissão de trabalhadores para abrir a rodada de negociações.

- Isso é fachada porque 80% da pauta não foi sequer falada. A gente não aprovou nada, só ouvimos. O sindicato não voltou pra base com a gente pra apresentar e votar que a empresa propôs. Isso era o certo. Agora, eles falaram na imprensa, soltaram um panfleto nos sítios dizendo que tá tudo certo – acusa um trabalhador que permaneceu na comissão, mas prefere não se identificar.
 
Três dias na vida de Marabazinho
Raimundo Nonato Diniz, 29 anos, soldador, é um dos 60 demitidos pelo CCBM. Trabalhava no sítio Belo Monte, maior canteiro da obra. Foi apelidado de Marabazinho – diminutivo para Marabá, onde deixou a mulher e filhos, embora tenha nascido no Maranhão. Esperou 25 dias por uma vaga. Trabalhou 18. Demitido sem justa causa.

- O encarregado mandou eu ir pro escritório, disse que ia me dar as contas porque tinha me visto numa gravação feita durante a última greve. Quem tava na filmagem nos dias da paralisação foi mandado embora. Havia muita perseguição com os funcionários que foram vistos nas filmagens. Eles fizeram questão de filmar cada um que tava na greve, pra poder mandar embora. Junto comigo, saíram umas 60 pessoas que estavam reivindicando direito, transporte, baixada – relata Marabazinho.

"Sequestro"
Domingo, 15. Às 22h, Marabazinho dormia no quarto. Chega a Polícia Militar e a tropa de choque no alojamento conhecido como “Bacana”, no início da estrada estadual que vai de Altamira ao perímetro urbano de Vitória do Xingu.

Seguranças privados do alojamento conduzem os policiais até Raimundo, que é jogado no chão, algemado e levado, sem camisa, para a caçamba de uma das picapes policiais. Diversas testemunhas presenciaram o fato. Meia hora depois da ocorrência, um vídeo que registrava a prisão do trabalhador chega às nossas mãos.

Às 23h30, os investigadores no plantão explicam que Marabazinho havia sido preso em flagrante pela Guarda Municipal, nadando no rio Xingu, fugindo de um crime que teria cometido minutos antes: tentativa de assalto da filha de um policial civil. Mostramos a foto de Raimundo. O investigador confirma ser ele o homem, mas diz que o nome é diferente. Mostra a arma do crime – uma faquinha de pão com cabo de plástico.

Segunda-feira, 16. Por volta do meio dia, o delegado diz que Marabazinho está para ser liberado, e que o suspeito da noite anterior não era ele, e sim um José qualquer. Também explica que não foi nem será lavrado qualquer boletim de ocorrência.

Libertado, Marabazinho conta:

- Pisaram a minha cabeça, me empurraram. Deram uma gargantilha no meu pescoço, me algemaram com brutalidade. Dá pra ver as manchas no meu braço e na minha perna.

Sobre José, com quem foi confundido, Raimundo conta que também é trabalhador do consórcio. Foi acusado – e aí a versão se altera, da madrugada para a manhã – de ter tentado roubar uma moto.

O proprietário da moto, contudo, teria menos de 18 anos, e preferiu retirar a queixa. José alega que estava indo trabalhar quando começou a ser perseguido por guardas municipais e nunca na vida pilotara uma moto. Também foi liberado da delegacia. Também não foi feito boletim da ocorrência.

- Esse aí foi preso por desordem. Mas o nome dele não tá no caderno – diz um policial qualquer, referindo-se a Marabazinho – e também ao fato de que não houve boletim de ocorrência ou auto de prisão em flagrante.

E o soldador deixou a delegacia sem saber porque entrou ou saiu.

- Foi a pior noite da minha vida. Nunca tinha sido preso. Fiquei de pé até as 4 horas da manhã, sem canto pra dormir no meio de outros 19 presos, sem comer e sem beber água.

O vídeo de sua detenção ilegal e sua própria memória são suas únicas provas em seu favor. A maioria de seus colegas tem receio em testemunhar a seu favor, com medo de sofrerem retaliação. Sobre isso, Marabazinho conclui:

- Se eu tivesse fichado [contratado] ainda, e estivesse dando entrevista ou depoimento, hoje mesmo eu estaria na rua. A perseguição aqui é muito grande com pessoas que querem melhoria pra gente. Pessoa aqui não pode reclamar de nada, não. Se reclamar, eles mandam logo pra rua.

(Por Ruy Sposati, Xingu Vivo, 17/04/2012)


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