As nações ricas que mais "descarbonizaram" suas economias foram as que investiram em fontes limpas, porém, boa parte da redução da emissão de carbono por unidade do PIB se deve à migração de indústrias para países emergentes
Quando se fala em reduzir a intensidade de carbono por unidade do Produto Interno Bruto (PIB), nada é mais eficiente do que substituir os combustíveis fósseis por fontes limpas de energia. Esta é a conclusão de uma análise realizada pelo Breakthrough Institute, um centro de pesquisas independente fundado em 2003, chamada “Descarbonização Nacional, 1971 – 2006”, que avaliou a “descarbonização” dos 26 países que formam a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD).
Segundo o Instituto, a taxa média de redução na intensidade de carbono dos países membros da OECD no período foi de 1,5% ao ano, bem abaixo dos 4% recomendados pela Agência Internacional de Energia (AIE) como o necessário para se evitar as piores consequências das mudanças climáticas. A média mundial entre 1971 a 2006 seria de 1,3%.
O país que melhor limpou sua economia foi a Suécia, com uma redução de 3,6% ao ano. Já o pior resultado ficou com Portugal, que teve um aumento anual de 0,7% em sua intensidade de carbono. Outros países que apresentaram resultados de destaque foram Irlanda, 3,2%, Reino Unido e França, 2,8%, e Bélgica, 2,6%. A Alemanha registrou 2,5% ao ano e os Estados Unidos 2,3%.
Dos cinco países que mais “descarbonizaram”, Suécia e França o fizeram limpando sua matriz energética, enquanto Irlanda e Reino Unido foram na realidade ajudadas pela migração de suas indústrias para outros países. O resultado da Bélgica seria em parte causado pelos dois fatores.
Em seguida da crise do petróleo dos anos 1970, os governos da Suécia e da França começaram uma transformação em sua geração de em energia, principalmente investindo em nuclear e hidroelétrica. Mais recentemente os suecos também começaram a apostar em fontes alternativas, com a biomassa sendo a primeira opção em sistemas de aquecimento.
"Outsourcing"
A questão mais polêmica apresentada pela análise é a queda da intensidade resultante da migração de indústrias poluentes e de grande demanda energética de países como o Reino Unido, Irlanda e Estados Unidos para as nações emergentes, como China e Brasil, um processo conhecido como “outsourcing”.
Por exemplo, a Irlanda passou nos últimos 30 anos por uma transformação, deixando de ser um centro agrícola para uma economia baseada em serviços. Assim, sua intensidade de carbono caiu significantemente, porém o efeito disso acaba sendo nulo, porque essas emissões simplesmente mudaram de endereço.
O mesmo pensamento é válido para todo o Reino Unido e para os Estados Unidos, sendo também uma das causas para os problemas econômicos dessas nações. Nos EUA, a fatia da manufatura na economia caiu 45% desde 1971 e as importações cresceram 200%.
Um estudo de 2011, chamado "Crescimento da transferência de emissões via comércio internacional entre 1990 e 2008", já afirmava que as emissões relacionadas com mercadorias produzidas em países em desenvolvimento são muito maiores do que os cortes obtidos pelas nações ricas sob o Protocolo de Quioto que importam esses produtos.
De acordo com Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), as nações mais ricas reduziram em média 2% de suas emissões entre 1990 e 2008, mas se for considerada a importação de mercadorias, na realidade houve um aumento de 7%.
(Por Fabiano Ávila, Instituto CarbonoBrasil, 12/04/2012 )