Documento mostra o que líderes dessa indústria estão fazendo para resolver seus problemas ambientais como liberação de resíduos tóxicos e desperdício de água, e aponta sugestões para que setor se torne ainda mais sustentável
Quando falamos em energia limpa, pensamos logo em fontes renováveis, como a energia solar e a eólica. Mas muitas vezes essas alternativas são menos verdes do que parecem, e sua produção pode estar ligada a problemas ambientais.
Porém pelo menos para a indústria solar, essa condição felizmente está mudando. De acordo com o relatório Verde e Limpa: Boas Práticas em Fotovoltaica, produzido pela organização As You Sow, que defende práticas de responsabilidade socioambiental para empresas, o setor solar não apenas produz uma energia mais sustentável que as fontes fósseis como também está se tornando mais limpo em toda a sua cadeia de produção.
Como historicamente a indústria solar baseia-se na justificativa de ser uma alternativa energética mais limpa do que as opções de combustíveis fósseis, ela enfrenta uma pressão ainda maior frente a casos como a liberação de resíduos tóxicos e desperdício de água.
O relatório enfatiza que além da produção de energia mais limpa, a geração solar também é benéfica para os trabalhadores, já que envolve menos risco na produção do que as fontes fósseis. Também por isso, é importante que o setor busque formas de se tornar ainda mais verde.
O documento, dividido em três seções (considerações de investidores e exemplos de empresas que estão adotando boas práticas; oportunidades técnicas; riscos ambientais e de segurança na produção da tecnologia e alternativas para mitigar esses riscos), indica que muitos produtores de energia solar estão a par dessa responsabilidade.
Um exemplo é a companhia chinesa JinkoSolar, que resolveu tomar atitudes rápidas para resolver um problema de poluição em um rio. Outro caso é o da Associação de Indústrias de Energia Solar (SEIA) dos Estados Unidos, que em março deste ano se comprometeu oficialmente com responsabilidades socioambientais através de um documento que promove padrões para o setor nessas áreas.
Já a First Solar tem um programa de reciclagem de destaque, que aproveita até 95% dos materiais semicondutores reutilizáveis de antigos painéis para a produção de novos painéis. Outras empresas ainda afirmaram, por exemplo, ter metas para reduções de emissões, para reduzir o uso de água e estão participando de programas voluntários de segurança no trabalho.
“Fiquei realmente satisfeita por ver quanta consciência há. Você está vendo uma indústria que é muito sensível”, avaliou Amy Galland, autora do relatório. Entre as firmas que responderam as pesquisas utilizadas para desenvolver o relatório estão a Dow Solar, a SunPower, a Suntech, a Trina Solar e a Yingli Solar.
No entanto, ainda há muito a ser melhorado nessa indústria. Um dos fatores a ser aprimorado é a própria questão da transparência sobre as práticas das empresas solares. Para se ter uma ideia, dos cerca de 100 questionários enviados para as companhias solares para produzir o relatório, apenas 11 foram respondidos. “Realmente esperamos que o resto da indústria se torne mais transparente e esteja pensando sobre isso”, ponderou Galland.
O documento ainda aponta sugestões para resolver alguns potenciais problemas da geração de energia solar, como, por exemplo, a importância de ter uma política de coleta de resíduos tóxicos, ou de se considerar a localização para implantação de uma usina solar, visando reduzir a dependência desta em fontes fósseis de energia para sua produção.
Sustentabilidade econômica
Para muitos especialistas na indústria solar, no entanto, não basta buscar a sustentabilidade ambiental; o setor também deve buscar a autossuficiência econômica.
No entanto, essa sustentabilidade econômica está sendo ameaçada pela suspensão abrupta de subsídios solares. Em dezembro de 2011, por exemplo, o Departamento do Tesouro norte-americano já encerrou o pacote de estímulo 1603, que reembolsava até 30% das instalações de energia renovável.
Agora, os EUA avaliam se devem ou não continuar com a Taxa de Crédito de Investimento (ITC), que reduz o imposto de pessoas físicas ou jurídicas em até 30% em relação à quantia investida em projetos de geração de energia solar. Atualmente, o ITC está previsto para expirar no final de 2016.
Com a suspensão desses incentivos, a sobrevivência e crescimento da indústria solar correm perigo, já que os preços de produtos e produção de energia podem subir muito, espantando investidores.
Segundo Michael Lamb, especialista em energia solar, para garantir uma autossuficiência do setor sem prejudicá-lo, é necessário eliminar gradualmente os subsídios governamentais para a energia solar, bem como os incentivos para outras formas de energia, tanto renováveis quanto fósseis.
“É difícil entender por que a vontade política é tão escassa para apoiar a indústria solar, cujos custos diminuíram mais de 75% nos últimos três anos, quando a indústria imensamente lucrativa de petróleo e gás dos EUA continua a receber cerca de US$ 30 bilhões em incentivos anuais enquanto o custo da gasolina para os contribuintes mais do que dobrou no mesmo período”, comentou Lamb.
“É claramente de interesse da ainda incipiente indústria de energia solar que os incentivos federais e estaduais sejam suspensos de uma maneira ordenada e equilibrada que elimine gradualmente subsídios artificiais para todas as formas de energia. Essa forma, produtores, investidores e consumidores podem fazer planos bem considerados e ter confiança para prosseguir com projetos que façam sentido em longo prazo, sem temerem que o tapete seja repentinamente puxado debaixo deles”, concluiu o especialista.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 29/03/2012)