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2012-04-05 | Rodrigo

As autoridades das Ilhas Canárias e ecologistas são contra as prospecções de petróleo autorizadas pelo governo espanhol em uma área do Atlântico perto desse arquipélago, um dos destinos turísticos mais importantes da Europa e de grande potencial no campo da energia sustentável.

A exploração petrolífera, prevista para 60 quilômetros da costa das ilhas de Fuerteventura e Lanzarote, “coloca em risco o meio ambiente e o modelo econômico” desta comunidade autônoma, baseado no turismo, disse à IPS o comissário do governo das Canárias para o Desenvolvimento do Autogoverno e as Reformas Institucionais, Fernando Ríos.

O primeiro-ministro espanhol, o direitista Mariano Rajoy, decidiu no Conselho de Ministros de 16 de março dar luz verde às prospecções de hidrocarbonos nas Ilhas Canárias, em uma tentativa de aliviar a dependência do petróleo estrangeiro e com o argumento de que representará grandes benefícios para a região e o resto do território nacional.

“Confirmadas as expectativas, a Espanha poderá produzir 140 mil barris de petróleo por dia, o que representa 10% do consumo total”, destacou o ministro nacional de Indústria, Energia e Turismo, José Manuel Soria, em entrevista à rádio estatal no dia 28 de março.

Soria disse que a Espanha depende em 99,8% do exterior para obter hidrocarbonos, por isso uma reserva em jurisdição do país “seria a melhor notícia energética para nossa economia nos últimos 50 anos”.

A empresa Repsol YPF, encarregada da prospecção, afirmou em um comunicado que “a indústria do petróleo e do gás permitiria diversificar a atividade econômica das Ilhas Canárias e seriam criados novos postos de trabalho”. Segundo a Pesquisa de População Ativa, a comunidade autônoma das Canárias, uma das 17 que formam a Espanha, registrou a segunda taxa de desemprego mais alta do país em 2011, com 30,93%, atrás de Andaluzia, com 31,23%.

Ríos acredita que as prospecções e a possível exploração não criarão novos empregos, porque “exigem pessoal muito especializado”. Também criticou o fato de as Canárias “assumirem todos os custos e nenhum benefício de curto e médio prazos”, e se referiu à capacidade da plataforma de produção, cuja vida útil “seria de apenas 20 anos”.

Contudo, a Repsol YPF insiste que, “se os indícios forem confirmados, estaremos diante da maior descoberta de hidrocarbonos da história da Espanha”. Porém, ainda falta elaborar um estudo de impacto ambiental que demorará pelo menos dois anos.

O presidente do governo de Canárias, Paulino Rivero, chamou de “injusta” a decisão de Madri, “que só beneficia uma empresa privada”, e garantiu que “nos tratam como se fôssemos uma colônia perdida no Atlântico”.

Sara Pizzinato, responsável pela campanha sobre mudança climática e energia da organização Greenpeace, afirmou que as explorações na costa das Canárias, junto à fronteira marítima com o Marrocos, são “uma experiência arriscada e, sobretudo, desnecessária”. Explicou à IPS que “quanto mais profunda é a exploração, maior o risco”.

“Se a declaração de impacto ambiental for positiva, se iniciará um processo de perfuração de prospecção a uma profundidade entre três mil e 3,5 mil metros, incluindo cerca de mil de lâmina de água”, segundo comunicado da Repsol. O governo espanhol e a empresa defendem a compatibilidade entre atividades turísticas e a indústria dos hidrocarbonos.

Sobre isso, Ríos opinou que “a prospecção é incompatível com o turismo de sol e praia”, embora o ministro Soria declare que podem “perfeitamente se compatibilizar, como em outros lugares do mundo”.

O setor turístico representa mais de 30% do produto interno bruto das Ilhas Canárias, graças especialmente à oferta de praias cristalinas e areias brancas. Junto com a atividade imobiliária, são responsáveis pelo crescimento de 2,1% da economia local no ano passado, em relação a 2010, segundo o Instituto Nacional de Estatística.

Por isso, milhares de habitantes das Canárias foram às ruas no dia 24 de março em todas as ilhas do arquipélago, sobretudo em Lanzarote e Fuerteventura, para se manifestar contra as prospecções e a favor da implantação de fontes de energia limpa e segura.

Ríos disse que sua região, pelas excepcionais condições climáticas, tem um importante desenvolvimento e grande potencial quanto às energias renováveis. “Nas Canárias é mais barato produzir energia limpa do que petróleo”, observou.

“As Canárias poderiam ser a Arábia Saudita das energias renováveis”, afirmou Pizzinato, destacando o extraordinário potencial do arquipélago nessa área. Mais de 20% da costa espanhola que concentra importantes recursos energéticos renováveis corresponde às Canárias, tanto em forma de energia eólica (sul das ilhas), como de aproveitamento das ondas, principalmente na face norte do arquipélago. Também se aproveita a luz solar.

“Temos sol e vento de sobra. Queremos que se pense no futuro e se invista em energias renováveis”, disse Valerie Delecroix, guia turística em Lanzarote, declarada Reserva da Biosfera em 1993 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). As prospecções também são “um risco para nossa saúde”, alertou Delecroix, já que Fuerteventura e Lanzarote dependem da água marinha dessalgada para o consumo humano.

No entanto, a Repsol garante que tem a experiência e a tecnologia necessárias para realizar as operações submarinas respeitando o entorno natural. A isto, Pizzinato respondeu que “a indústria do petróleo faz essa afirmação porque não é ela que paga em caso de vazamento, pois toda a responsabilidade recai no Ministério de Fomento, ou seja, em todos os cidadãos”.

A ativista também recordou o vazamento em 2011 na plataforma que a Repsol YPF opera a 50 quilômetros da costa da cidade espanhola de Tarragona e o vazamento em 2010 no Golfo do México, que afetou mais de 944 quilômetros do litoral norte-americano.

Pizzinato advertiu também que o petróleo é incompatível com o controle da mudança climática, já que a extração de combustíveis fósseis do fundo marinho emite gases causadores do efeito estufa.

(Por Inês Benítez, IPS / Instituto CarbonoBrasil, 05/04/2012)


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