Semente transgênica mais produtiva deve substituir variedade predominante no Brasil, a qual terá patente expirada em 2014. Voltada para o país, soja propicia ganho de R$ 347 por hectare e pode estar disponível em 2012/13, diz empresa
A Monsanto aposta todas as fichas na nova soja que em breve colocará no mercado, a Intacta RR2 PRO. A nova variedade transgênica substituirá a RR (Roundup Ready), que tem os dias contados para o término da patente e o direito de cobrar royalties.
Os direitos de propriedade intelectual sobre a soja RR terminam em 2014, segundo a Monsanto. Para compensar essa perda de receita, a empresa confia na substituição da antiga semente pela nova.
"Toda vez que você traz inovação ao mercado, tem de representar um verdadeiro ganho de produtividade. Porque, se a produtividade for igual à antiga e a antiga for de graça, o produtor vai continuar na antiga", disse à Folha o presidente mundial da Monsanto, Hugh Grant.
Desenvolvida para a necessidade das lavouras brasileiras, usualmente atacadas por lagartas, a nova soja combina a proteção contra insetos e a tolerância ao herbicida glifosato, usado para controlar plantas invasoras.
Pronta para venda, mas à espera de aprovação na China e na Europa -principais clientes do Brasil-, a nova soja passou pelos primeiros testes nesta safra. Os resultados animam a Monsanto.
"Existe uma forte convicção de que essa soja vai ter maior produtividade consumindo menos insumos", afirmou Grant, que esteve no Brasil nesta semana para o lançamento do produto.
A empresa semeou a nova variedade nas lavouras de 500 produtores espalhados pelo país. O resultado médio foi uma produtividade de 6,6 sacas a mais por hectare em relação a outras variedades.
Por ser resistente à lagarta, a nova semente permite, ainda, um ganho extra de R$ 70 por hectare na redução de pulverizações, uso de máquinas e custos dos inseticidas. Após colher os resultados de todos os produtores envolvidos nesse primeiro plantio experimental, a Monsanto estima um ganho de R$ 347 por hectare para os agricultores.
Dois produtores procurados pela Folha vivenciaram situações diferenciadas. Um deles, de Mato Grosso do Sul, diz que as vantagens são evidentes no combate à lagarta, pois a região onde está, Caarapó, tem alta incidência desses insetos nas lavouras.
Quanto à produtividade, ficou difícil a aferição porque a soja foi muito prejudicada pela seca na região. Outro produtor, de Campos de Júlio (MT), diz que a produtividade é maior e superou em quatro sacas a do plantio de outras variedades.
Preço
A Monsanto estuda quanto vai cobrar pela tecnologia. O valor dos royalties será discutido com os produtores, a partir dos ganhos obtidos, em discussões que começam amanhã, em Mato Grosso. "A primeira pergunta não é o quanto custa. A primeira pergunta é: o quanto a nova soja rende?", diz Grant.
Caso a aprovação da variedade por China e Europa saia nos próximos meses, a comercialização da nova semente poderá ocorrer já na safra 2012/13.
Mudou o debate ambiental, afirma a empresa
Alvo de ambientalistas nos últimos 15 anos, a Monsanto vê avanços na relação entre a empresa e os grupos contrários ao cultivo de transgênicos. "A minha sensação é que a conversa mudou", diz Hugh Grant, presidente mundial da empresa.
Para ele, a maior preocupação com o uso da água e com o fim do desmatamento despertou um debate mais maduro. "A solução para duplicar a produção de alimentos na mesma área, nos próximos 20 anos, está na discussão entre ONGs, empresas e agências governamentais", afirma.
Há 15 anos, diz, esses grupos se viam como adversários. "Hoje estou otimista porque existe uma nova geração interessada em encontrar um espaço de colaboração."
A preocupação com o uso da água também fará com que o debate sobre o plantio esquente na Europa, que proíbe o cultivo, mas importa transgênicos. Grant classifica essa posição como "contraditória" e vê a adesão do continente no futuro.
"Mas não há nada que uma empresa possa fazer para influenciá-los. Os cientistas e os políticos europeus têm de tomar essa decisão por conta própria", afirma.
Para ele, a abertura da China também virá com o tempo. "Eles não plantam transgênicos, mas estão fazendo pesquisa de classe mundial. Como a China está muito focada em produtividade, eu imagino que em algum momento o cultivo seja autorizado", diz.
(Por Mauro Zafalon e Tatiana Freitas, Folha de S. Paulo, 29/03/2012)