Um trabalhador das obras da usina hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, morreu ontem de madrugada, durante uma série de ataques incendiários aos alojamentos dos operários. O homem, segundo a Secretaria de Segurança do Estado, foi vítima de um infarto em meio ao pânico que se instalou no canteiro de obras. Onze pessoas foram detidas, todos funcionários de Jirau, acusados de terem participação nos incêndios.
Dos 57 alojamentos que ficam nos canteiros da margem direita do rio Madeira, 36 foram queimados, segundo a Secretaria de Segurança. "Foi um grupo pequeno, mas houve uma ação articulada. Botavam fogo num alojamento, os bombeiros chegavam e dali a pouco outro já estava em chamas", contou Cláudio da Silva Gomes, presidente da Confederação Nacional dos Sindicatos da Construção.
"Muitos trabalhadores ficaram com a roupa do corpo, outros pegaram o que podiam e saíram correndo puxando malas. Eles estão aterrorizados."
A Camargo Corrêa, principal construtora da usina, informou que os trabalhos foram suspensos ontem. A empresa tem cerca de 15 mil funcionários nas obras.
O Ministério da Justiça confirmou, ontem à noite, o envio de 120 militares da Força Nacional de Segurança para ajudar a controlar os conflitos na hidrelétrica de Jirau. O contingente vai se juntar aos cem homens que já atuam na região, deslocados para os arredores da usina após os atos de vandalismo.
Desde o início do mês, quando trabalhadores de Jirau entraram em greve, sobretudo por melhores salários, houve alguns episódios de apedrejamento de ônibus usados de transporte de funcionários.
Nas obras da usina de Santo Antônio, também em Rondônia, onde a greve foi iniciada dias depois, ocorreram algumas depredações. Mas nada comparado com os ataques da madrugada, que lembraram o caos do ano passado em Jirau, quando uma onda de vandalismo deixou ônibus e instalações depredadas, atingidos por pedras e fogo.
Depois de acordo com a Camargo Corrêa e com o Consórcio Construtor Santo Antônio, aprovado em assembleias pela maioria dos trabalhadores na segunda-feira de manhã, as atividades nos dois empreendimentos tinham voltado ao normal. Em Jirau, durante a assembleia, houve tumulto com alguns trabalhadores que defendiam a manutenção da greve.
Por meio de nota, a Camargo Corrêa disse que a situação está controlada e que parte dos funcionários que estavam alojados nos canteiros não quer mais ficar no local.
"Neste momento o clima é de estabilidade e controle e os esforços estão concentrados na mobilização de recursos para retirada com segurança dos trabalhadores que desejam deixar o canteiro de obras, cerca de 3.000 pessoas. Estavam alojados aproximadamente 7.000 trabalhadores. A Camargo Corrêa está providenciando ônibus, alimentação e alojamento provisório em Porto Velho.
Em entrevista ao Valor, Raimundo Soares, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado de Rondônia (Sticcero), filiado à CUT, atacou o rival Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada (Sintrapav) e o responsabilizou pelos atos de vandalismo que levaram ao incêndio de dezenas de alojamentos de Jirau.
"O Sintrapav está por trás disso. Desde o fim de semana eles vinham tentando complicar as nossas negociações com os empresários, dizendo que não representávamos mais os trabalhadores da usina, o que é uma mentira", disse Soares.
O Sintrapav é vinculado à Força Sindical. Desde o ano passado, o sindicato questiona a representação dos trabalhadores pelo Sticcero, sob alegação de que ele seria o representante legítimo da categoria. O Sintrapav foi procurado, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.
(Por Marcos de Moura e Souza, Yvna Sousa e André Borges, Valor Econômico / IHU On-Line, 04/04/2012)