A tendência de alguns países desenvolvidos liderados pelos Estados Unidos é a de enfraquecer a pauta da Rio+20, a conferência sobre desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, no Rio de Janeiro, em junho, dizem ambientalistas. O calendário eleitoral e a crise econômica estariam fazendo com que a agenda de longo prazo do evento perca para a urgência de soluções no presente.
"O que dá para observar é que a Rio+20 é uma conferência bastante importante, que pode ter relevância, mas as negociações têm a tendência de postergar decisões mais fortes", diz Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos.
"Pelas observações dos delegados dos EUA, o documento final da Rio+20 seria algo de cinco páginas, muito reduzido e de tom bem genérico", diz ele, que esteve nos EUA esta semana quando ocorreu outra rodada de negociações sobre o principal documento da Rio+20, o chamado "O Futuro que Queremos".
Em janeiro, em sua primeira versão, o texto tinha 19 páginas. Agora, tem 128. Recebeu um grande número de comentários e centenas de colchetes - a indicação dos diplomatas para dizer que não há consenso entre os países e, por isso, o texto não pode ser aprovado daquela forma.
"Essa grande quantidade de emendas revelou uma tendência muito preocupante, a da exclusão sistemática de uma linguagem que favorecia direitos humanos para outra, que favorece os mercados", aponta Aron Belinky, coordenador de processos internacionais do Instituto Vitae Civilis. "Por exemplo, a questão da água como direito humano foi alterada para o direito ao acesso à água", cita.
"A sociedade civil está questionando fortemente o conceito de economia verde", diz a deputada Aspásia Camargo (PV-RJ), também presente à rodada de negociações. "Fico até aborrecida, porque sou verde e há 20 anos discuto isso. Agora deu um pavor geral."
(Por Daniela Chiaretti, Valor Econômico / IHU On-Line, 30/03/2012)