O governo de Rondônia quer que o Exército ocupe os canteiros de obras das usinas de Santo Antônio e Jirau para garantir que trabalhadores ponham fim a greve dos trabalhadores da construção. Homens da Polícia Militar e a Força Nacional já estão nos dois locais, mas para o governo só o Exército agora seria capaz de "restabelecer a ordem", disse o secretário de segurança do Estado, Marcelo Nascimento Bessa.
As empresas responsáveis pelas obras dizem que os grevistas são minoria, mas estão conseguindo impedir que a maioria volte às atividades. Jirau está parada há 20 dias e Santo Antônio desde a semana passada.
"O efetivo do Exército operaria em todos os pontos sensíveis e faria o patrulhamento interno para permitir que quem quer trabalhar possa fazê-lo sem ameaças", disse o secretário.
A decisão sobre o pedido de ajuda do Exército foi discutida por ele ontem com representantes dos consórcios responsáveis pelas obras - Energia Sustentável do Brasil (de Jirau) e Santo Antonio Consórcio Construtor.
O temor das autoridades, das empresas e também de lideranças sindicais que participam das negociações é que o clima de insatisfação de parte dos trabalhadores provoque atos de quebra-quebra e vandalismo como os ocorridos há um ano. Na época, ônibus foram incendiados e apedrejados e instalações nos dois canteiros, destruídas.
O governador de Rondônia, Confúncio Moura (PMDB), que está em viagem ao exterior, autorizou que sua equipe faça o pedido à Presidência da República por soldados. Bessa, segundo sua assessoria, falou por telefone no fim da tarde com o ministro Gilberto Carvalho. Segundo sua assessoria, Carvalho disse estar "convencido da necessidade do Exército nas obras".
O movimento grevista reivindica, entre outros pontos, uma antecipação do aumento salarial antes mesmo da data-base, em maio, plano de saúde com cobertura nacional para que seus familiares possam também ser atendidos, e aumento no vale-alimentação.
Segundo Bessa, o Estado de Rondônia não pode mais manter policiais militares nos canteiros para evitar tumultos como os ocorridos na paralisação do ano passado. O secretário disse que a presença de PMs nas duas obras já afeta a segurança no Estado. "Operações que poderiam estar sendo feitas não acontecem porque policiais estão deslocados para os canteiros. Segundo ele, nas duas obras, a PM e a Força Nacional mantém cerca de 250 homens - 80% são responsáveis pela segurança de Jirau.
Ao contrário do que se viu em 2011, o movimento tem sido pacífico. Hoje pela manhã, no entanto, houve tumulto envolvendo entre 600 e 1000 trabalhadores de Jirau (segundo números citados pelo secretário de Segurança) que impediram a entrada de ônibus com trabalhadores que pretendiam voltar à obra. PMs e integrantes da Força Nacional estavam no local, mas acabaram não entrando em confronto e os funcionários que iriam trabalhar foram embora.
"É um absurdo mandar o Exército. Os trabalhadores não vão deixar entrar. O que é preciso não é repressão. O que é preciso é mais diálogo", disse Donizete de Oliveira, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção do Estado de Rondônia (Sticcero). As empresas dizem que vem mantendo diálogo.
Segundo a Camargo Corrêa, principal empresa à frente da obra da usina, "não ocorreram atos de violência contra trabalhadores, nem houve registro de danos materiais às instalações e equipamentos no canteiro da Usina Hidrelétrica Jirau.
Na hora do almoço, o tumulto foi no canteiro de Santo Antônio, cuja construção está a cargo, principalmente, da Odebrecht. A maioria dos funcionários havia voltado ao trabalho pela manhã, mas na hora do almoço um grupo de grevistas começou a confusão. Trabalhadores que foram retirados às pressas pela companhia, ouvidos pelo Valor, disseram que um grupo atirou pedras e bombas no restaurante. Houve choques entre trabalhadores e policiais.
Executivos da empresa foram pegos de surpresa, assim como o secretário Bessa, porque até então o clima na obra era menos tenso do que em Jirau. "O consórcio tomará as medidas legais para punir os vândalos e continua empenhado em garantir a segurança para os seus integrantes. A violência praticada é uma evidente questão de segurança pública e deve ser alvo de efetivo controle do Estado e de sua força policial" disse, por meio de nota, o consórcio Santo Antonio.
Uma das razões alegadas pelo sindicato para a tensão de ontem foi a convocação por parte dos dois consórcios para que os trabalhadores voltassem ontem mesmo ao trabalho - o que permitiria que eles não sofressem descontos em seus salários. Para o sindicato, a convocação atropelou as negociações marcadas para hoje no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).
Os desembargadores decidiram adiar para hoje uma audiência de conciliação com comissões de trabalhadores, empresas e sindicato. A greve em Jirau já foi considerada em caráter liminar abusiva pelo TRT em Rondônia. Mesmo assim, os trabalhadores continuaram de braços cruzados.
Mas, como disse, o desembargador Carlos Augusto Gomes Lobo ontem, "não adianta a greve ser declarada abusiva. O Judiciário não pode obrigar o trabalhador a voltar ao trabalho. A questão é social." Até o fechamento da edição, o pedido formal à Presidência para envio do Exército ainda não havia sido assinado pelo vice-governador, Airton Gurgacz.
(Por Marcos de Moura e Souza, Valor Econômico / IHU On-Line, 30/03/2012)