Meta foi estabelecida em 2009, na conferência de Copenhague. Yvo de Boer acredita que Terra caminha para elevação de 3ºC ou mais
O ex-chefe climático da ONU Yvo de Boer disse nesta terça-feira (27) que o compromisso de restringir o aquecimento do planeta a 2ºC, que ele ajudou a costurar na Cúpula de Copenhague em 2009, é hoje inatingível.
"Penso que [a meta de] dois graus está fora de alcance", disse Yvo de Boer, ex-secretário-executivo da Convenção-quadro sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês), durante a conferência “Planet under pressure” (planeta sob pressão, na tradução do inglês), que acontece na Inglaterra.
A meta de limitar a elevação das temperaturas globais em dois graus Celsius foi estabelecida por um grupo central de países nas horas finais da turbulenta Conferência de Copenhague, em dezembro de 2009, e foi formalizada na cúpula de Cancún, um ano depois. As 195 partes da Convenção-quadro se comprometeram com a meta.
Mas um número cada vez maior de cientistas alerta que o objetivo está se esvaindo sem a realização de cortes radicais nas emissões de gases causadores do efeito estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas. Alguns consideram que a meta é uma ilusão política perigosa, uma vez que a Terra se encaminha para uma elevação da temperatura de 3ºC ou mais.
Meta perdida
"A meta de dois graus está perdida, mas não significa que devamos esquecê-la", disse de Boer. "É uma meta muito significativa, não se trata de um simples alvo que foi tirado do nada, tem a ver com tentar limitar a quantidade de impactos", acrescentou.
"Não se deve esquecer disso, no sentido de que está se ignorando o fato de que se passou pela dificuldade de formular uma meta que não é alcançada por falta de ação política", continuou.
"Consequentemente, o processo deveria se tratar de como conseguir aproximar o máximo possível dos 2ºC e não dizer 'comecem tudo de novo e formulem uma nova meta', esquecendo que passamos por isto muito recentemente", alertou.
Copenhague representou um limite nas discussões globais sobre o clima. Suas frustrações, juntamente com as crises financeira e fiscal que atingiram em cheio os países ocidentais, fizeram muitos governos marcar passo e até restringir seus planos de ação contra as emissões de carbono.
Novo acordo
Enquanto isso, o alto preço do petróleo e do gás levaram os grandes emergentes a queimar cada vez mais carvão, a mais suja das fontes de energia fósseis, aumentando as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2).
No ano passado, durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 17) em Durban, na África do Sul, os países concordaram em estabelecer um novo acordo climático em 2015 com entrada em vigor em 2020, colocando tanto os países ricos quanto os pobres pela primeira vez sob restrições legais comuns.
De Boer disse esperar que o quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) sirva de incentivo para uma retomada do 'deadline' de 2015.
"Felizmente, teremos outro grande relatório do IPCC em 2014 e então, quando os governos se reunirem em 2015 para negociar algo significativo, a ciência disponibilizará as informações para este processo político", afirmou.
(AFP / G1, 27/03/2012)