Até hoje, a ligação entre a ocorrência de fenômenos climáticos extremos e o aquecimento global era uma coisa incerta, e os estudos sobre essa relação, inconclusivos. Mas uma nova pesquisa do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático (PIK) sugere que essa ligação existe, e que as mudanças climáticas poderão aumentar a intensidade de enchentes, secas e ondas de calor.
O artigo, publicado no periódico Nature Climate Change neste domingo (25), baseou-se em três pilares para ser desenvolvido: física elementar, análises estatísticas e simulações de computador.
Princípios físicos básicos mostram, por exemplo, que o aquecimento da atmosfera leva a mais extremos climáticos através de uma maior absorção de umidade até que chova. Além disso, tendências estatísticas são confirmadas por dados de temperatura e precipitação. Por fim, simulações de computador comprovam a relação entre o aquecimento climático e os níveis de chuva.
“A questão é se esses extremos climáticos são coincidência ou um resultado das mudanças climáticas. O aquecimento global geralmente não pode ser provado como causa de eventos extremos individuais – mas na soma de eventos a ligação com as mudanças climáticas se torna clara. Não é uma questão de sim ou não, mas uma questão de probabilidades”, comentou Dim Coumou, principal autor do estudo.
De acordo com a pesquisa, essa ligação é mais evidente entre as mudanças climáticas e as ondas de calor e os níveis de precipitação, mas a relação com outros eventos como tempestades, embora menos conclusiva, também é plausível, segundo os conceitos físicos e as tendências observadas.
“É muito provável que muitos dos extremos sem precedentes da última década não tivessem ocorrido sem o aquecimento global antropogênico”, observou o artigo. “É como um jogo com dados viciados. Um seis pode aparecer de vez em quando, e você nunca sabe quando isso acontece. Mas agora aparece muito mais frequentemente porque mudamos os dados”, exemplificou Coumou.
Apenas entre 13 e 19 de março deste ano, recordes de calor foram quebrados em mais de mil locais na América do Norte. Em 2011, os Estados Unidos foram atingidos por 14 eventos climáticos extremos que causaram danos de US$ 1 bilhão cada, e em muitos estados os meses de janeiro a outubro foram os mais úmidos já registrados.
Nesse mesmo ano, no Japão, também foram registrados recordes de precipitação, e na China o rio Yangtze sofreu uma seca recorde. Em 2010, a Rússia teve o verão mais quente em séculos, e a Austrália e o Paquistão tiveram recordes nos índices de chuva, e em 2003, a Europa teve seu verão mais quente em pelo menos 500 anos.
A pesquisa aponta ainda que tanto na Austrália quanto nos Estados Unidos o registro de dias que batem recordes de calor e de frio duplicou. Na Europa Ocidental, a extensão de ondas de calor duplicou entre 1980 e 2005, e o número de dias quentes quase triplicou no mesmo período. Em todo o mundo, verões extremamente quentes são registrados em 10% da área de terra global, contra em 0,1% a 0,2% no período de 1951 a 1980.
“Extremos climáticos individuais estão frequentemente relacionados a processos regionais, como um sistema de bloqueio de pressão alta ou um fenômeno natural como o El Niño. Esses são processos complexos que estamos investigando mais. Mas agora esses processos se desenrolam no contexto do aquecimento climático. Isso pode transformar um evento extremo em um evento recorde”, concluiu Stefan Rahmstorf, coautor do artigo.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 26/03/2012)