Marcado pela corrupção e pela ineficiência, programa de despoluição da Baía da Guanabara consumiu US$ 1 bilhão em 20 anos. Mais de 60% do esgoto ainda não é tratado. Mais de 1 bilhão de dólares já foi torrado no programa de despoluição da Baía de Guanabara.
Anunciado com grande estardalhaço durante a ECO 92, o programa prometia, em pouco tempo, livrar a Baía da Guanabara do esgoto e da poluição. Vinte anos depois, a três meses da Rio + 20, a baía continua tão ou mais poluída que em 1992.
O fato marcante desses 20 anos – 1 bilhão de dólares depois, é que muita gente ligada ao projeto ficou rica. A despoluição da Baía da Guanabara foi uma grande farra para consultores e empresas de consultoria, usadas para desviar dinheiro.
Corrupção
Contratar empresa de consultoria é muito bom porque dá pra “rachar” o dinheiro. Fazer um rachuncho, como dizem por ai.
Você paga, por exemplo, 100 milhões para a consultoria. Ela devolve 40 ou 50 milhões por baixo do pano, dependendo do acerto. Outros 20 milhões vão para o bolso do dono da consultoria. Sobram 40 milhões para gastar, efetivamente, no projeto. Pelo menos 60% é desviado.
Não é apenas uma pessoa que se beneficia. É uma cadeia de negócios muito bem azeitada e que envolve o grupo político que controla o homem que assina as liberações. Durante 20 anos, a despoluição da Baía de Guanabara azeitou engrenagens subterrâneas de diferentes grupos políticos.
Todo mundo mamou nessa teta.
Nesses 20 anos, quatro presidentes da Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae) foram processados por improbidade administrativa. O atual presidente, Wagner Victer, não esconde o problema: “a transferência do gerenciamento para empresas de consultoria foi uma farra do boi”, disse ele ao Estadão.
O governo do Rio e a Cedae são réus na ação civil pública instaurado em 2007 e que apura o desvio de dinheiro da despoluição da baía. O objetivo da promotora Rosani da Cunha Gomes é modesto: que o Estado e a Cedae entreguem a obra em um prazo previamente acordado.
Modesto, mas impossível. A Cedae se recusa a entregar um cronograma de obras. A palavra transparência causa pânico e urticárias na gestão pública.
Rio + 40
Estações de tratamento construídas em locais inapropriados, estações construídas sem as devidas ligações com os ramais, ligações domésticas abaixo do previsto e outros tantos problemas impedem o sistema de funcionar. Estações de tratamento construídas em 1998 ainda estão sem receber um único litro de esgoto.
Cálculos do BID, que repassou o recurso, dão conta que 36% do esgoto gerado é tratado antes de ser jogado na baía. Um bilhão de dólares depois, 64% do esgoto que chega na Baía da Guanabara não é tratado. Quem sabe na Rio + 40 a baía esteja despoluída. Ou na Rio + 60. Não vamos ter pressa.
O dia que você acordar e ver a baía da Guanabara despoluída, saiba que não é apenas o esgoto doméstico ou industrial que foi tratado. Nesse dia, você terá certeza de que o esgoto político também passou por um processo de limpeza e de profunda sanitização. As duas coisas andam juntas.
(Blog do Marques Casara, 21/03/2012)