A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estabeleceu 2012 como o ano de uma “agricultura mais verde”. Segundo o presidente da estatal, Pedro Arraes, a contribuição da Embrapa para o projeto de sustentabilidade do setor, é, principalmente, oferecer subsídios científicos que permitam ao país ter clareza do que é a agricultura brasileira e de como funcionam seus sistemas produtivos. A ideia é aproximar os estudos tecnológicos voltados para agricultura às metas de sustentabilidade ambiental definidas pelo governo federal.
“A gente tem que fazer esse inventário das tecnologias, com critérios científicos de sustentabilidade. O papel fundamental da Embrapa é colocar ciência nessas discussões, oferecendo parâmetros e ferramentas para que o produtor faça a escolha dele, pensando o ganho que pode ter a mais preservando água, por exemplo, e abrindo mercado para sustentabilidade nas três dimensões [social, econômica e ambiental]”, destacou Arraes.
Na trajetória das pesquisas, a empresa foi alvo de críticas feitas, ao longo dos anos, por setores que questionaram os impactos de estudos polêmicos, como no caso dos transgênicos. Também teve trabalhos reconhecidos. Muitos especialistas apontam a Embrapa como uma das grandes responsáveis pela poupança de recursos naturais do país.
“Não foi apenas a Embrapa [que contribuiu para o aumento da produtividade agrícola brasileira], mas o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, que é muito mais antigo”, disse.
Atualmente, um dos desafios da empresa é na área da agroenergia. Segundo Arraes, as pesquisas sobre alguns produtos já estão adiantadas, como o uso do dendê no Cerrado. “O dendê produz 6 toneladas de óleo por hectare. No Cerrado, estamos produzindo 25 [toneladas por hectare]. O projeto é experimental, estamos irrigando com gotinhas. Temos que analisar tudo. Tem a questão hídrica, por exemplo. O quanto de água estamos gastando para produzir este combustível? Estamos deixando de molhar o feijão? Tem que ter um estudo”, explicou o presidente da Embrapa.
Arraes destacou ainda os estudos sobre combustível florestal. Segundo ele, o metanol da madeira pode ser uma alternativa, principalmente para os pequenos produtores, onde a agroenergia ainda é tida como desafio.
“Temos uma palmeira, a macaúba, que é de terras altas, tem 40% de óleo e é bastante rústica. Esta pode ser uma alternativa interessante para o pequeno produtor. Mas, ainda está sendo estudado. Depois que acharmos a tecnologia, temos que pensar em que território [o plantio] é viável, que tipo de organização será necessária e qual link com a iniciativa privada precisa ser feito para você esmigalhar isso”, declarou.
Precipitação política atrapalhou uso de mamona na produção de biodiesel
Cerca de quatro anos após o governo estimular intensamente a produção da mamona e do pinhão-manso para fabricação de biodiesel, como forma de resolver o problema de renda dos produtores do Semiárido nordestino, o projeto ainda não vingou.
Segundo Pedro Arraes, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), houve uma precipitação em se lançar programas antes de um estudo completo sobre a viabilidade econômica, de sustentabilidade e social, além de pesquisas mais avançadas.
“A velocidade da política nem sempre é a velocidade da técnica”, disse. Para Arraes, as políticas públicas precisam respeitar o tempo da pesquisa. “Não acredito que seja má intenção, é a vontade de resolver um problema. A Embrapa é vendedora de sonho. Então, às vezes a gente vai ao local e fala com uma plateia e a pessoa toma aquilo como pronto e já vira verdade, e não é feito estudo econômico, de sustentabilidade, social”.
No caso da mamona, ele explicou que um dos problemas foi a falta de capacitação dos pequenos agricultores para tirar a toxidade da planta. “Falaram assim [para os agricultor]: você planta mamona que vai produzir. Não se combinou com os maiores atores, que são os pequenos produtores. Às vezes, essas políticas vêm de cima, como se tudo tivesse resolvido, e não está”, acrescentou.
No caso do pinhão-manso, o problema se repetiu. “Trouxeram uma planta que é silvestre e disseram que ia resolver o problema do Brasil. Tem gente que plantou 2 mil hectares e está abandonada. Não trabalharam a qualidade do óleo, a maturação dela [da planta] é totalmente desuniforme, como vai colher isso aí?, indagou Arraes.
Um exemplo de programa bem estruturado, segundo ele, é o do dendê para a produção de óleo. “Esse é um programa que nasceu com política de crédito associada à técnica e ao zoneamento”, disse. Segundo o presidente da Embrapa, os produtores de dendê da Região Norte se associaram e fecharam contratos com empresas que se comprometeram a comprar todo o produto.
(Por Carolina Gonçalves e Danilo Macedo, com edição de Aécio Amado e Juliana Andrade, Agência Brasil, 18/03/2012)