Crime ambiental da Chevron na Bacia de Campos não foi um acidente. A alta gestão da empresa resolveu correr riscos em nome do lucro. Na Amazônia, empresa deixou mil buracos tóxicos contaminando populações indígenas.
O novo vazamento de petróleo no Campo de Frade, operado pela petroleira Chevron na Bacia de Campos, está fora de controle. Investigação do Ministério Público Federal mostra que a Chevron, ao longo do tempo, tomou decisões que não levaram em conta os riscos de vazamento e os consequentes danos ambientais e sociais.
O resultado foi um primeiro vazamento, em novembro de 2011, e outro que começou na semana passada, decorrente dos mesmos danos que levaram ao vazamento original. Deliberadamente, a empresa tomou decisões de alto risco e que não consideraram a geologia do local.
A primeira decisão foi a de usar uma pressão maior do que a suportada pelas rochas do local. A segunda decisão foi a de cavar além do autorizado. A empresa usou uma pressão maior do que a suportada pelas paredes do poço por um só motivo: agilizar o trabalho e ganhar mais dinheiro em menos tempo.
O resultado de tais decisões pode ser devastador para o ecossistema da região. “Abriu-se uma cratera, o vazamento não tem como ser controlado”, diz o procurador da República Eduardo Santos, que admitiu a possibilidade de pedir a prisão preventiva dos executivos da Chevron. Não foi um acidente. Aumentar a pressão no poço foi uma ação pensada, decidida pela alta gestão da empresa.
O delegado da Polícia Federal Fábio Scliar diz que a Chevron não está preparada para responder à gravidade do problema, que se estende por uma área de 7Km²
Crimes na Amazônia
A desastrosa operação da Chevron na Bacia de Campos não foi a única que não levou em conta os riscos ambientais e sociais. A empresa foi condenada a pagar 18 bilhões de dólares por danos causados na Amazônia equatoriana. O processo se arrasta por 18 anos, graças ao contingente de advogados e lobistas trabalhando pela Chevron.
Operando como Texaco, ao longo de 30 anos derramou 64 milhões de livros de petróleo no lago Agrio. Contaminou 70 bilhões de litros de água, o que levou a uma epidemia de câncer e de abortos em diversas comunidades indígenas da região.
Os indígenas entraram com uma ação contra a Chevron nos Estados Unidos. A empresa conseguiu levar o processo para o Equador, alegando que as provas estravam lá e que a Justiça do Equador é uma das melhores do mundo.
Ao perder o processo, o advogado da Chevron, Randy Mastro, disse o seguinte: “o Judiciário do Equador é corrupto e o julgamento foi fraudulento”. A Chevron, que fatura 200 bilhões de dólares por ano, ofereceu 1 bilhão de dólares a uma iniciativa do governo que visa manter inexplorados os campos de petróleo existentes em comunidades tradicionais indígenas. A proposta foi vista nos Estados Unidos como uma tentativa de subornar o governo e o judiciário equatorianos.
Quando saiu do Equador, a empresa deixou aberto cerca de mil buracos altamente tóxicos. É com essa Chevron que estamos lidando na Bacia de Campos. Uma empresa que devasta a Amazônia e contamina pessoas, em nome do lucro rápido, terá algum tipo de cuidado ao explorar petróleo em alto mar? Ou terá o cuidado de usar a pressão correta para o poço não desmoronar?
Seja no Equador ou no Brasil, a Chevron não está nem ai para o meio ambiente.
(Blog do Marques Casara, 20/03/2012)