Há anos o consumo exagerado de hambúrgueres, costeletas de porco ou outros tipos de carne vermelha está associado a doenças cardíacas, diabetes e alguns cânceres. Especialmente carne vermelha processada como bacon, salsicha ou mortadela, tem forte relação com doenças crônicas.
Um estudo recente sobre o assunto traz uma notícia ainda mais terrível para os carnívoros inveterados. Além de aumentar a propensão a doenças, a carne vermelha, processada ou não, pode realmente aumentar o risco de morte prematura em geral. A conclusão foi publicada on-line em 12 de março no Archives of Internal Medicine.
Pesquisadores liderados por An Pan, da Harvard School of Public Health, analisaram informações de saúde e de hábitos alimentares de mais de 121 mil homens e mulheres americanos que participaram de dois estudos de longo prazo sobre bem estar. Todos os pesquisados, no início dos estudos, estavam livres de doenças cardíacas e câncer.
No decorrer da longa observação de até 28 anos, mais de 13.900 pessoas faleceram, cerca de 9.460 de câncer e quase 6 mil de doença cardiovascular. Após ajustar outros fatores, descobriu-se que cada porção diária de carne aumentou o risco de morte prematura em cerca de 12%. O consumo de carne processada, em especial, aumentou essas chances ainda mais. Salsichas e bacon pareciam ser os mais suscetíveis a conduzirem a uma morte precoce.
Segundo estimativas, caso todos os participantes do estudo se limitassem a 42 gramas ou menos de carne vermelha por dia (cerca de meia porção padrão), mais de 9.860 mortes prematuras relacionadas à dieta poderiam ter sido evitadas.
Portanto, se deixamos de fora o cordeiro e presunto, além do bife nosso de cada dia, muitos se perguntarão se não estaríamos ingerindo proteína insuficiente a cada refeição. Não temam, asseguram muitos especialistas em saúde, existem outras maneiras mais seguras de ingerir proteínas. Peito de frango tem realmente mais gramas de proteína que um pedaço equivalente de carne vermelha – e o peixe não fica muito atrás.
Cientistas descobriram também que o feijão, as nozes e castanhas, leite magro e grãos integrais são substituições saudáveis para uma porção de carne vermelha.
Para os que se preocupam em ter quantidade suficiente de ferro, cientistas advertem que, na verdade, seu excesso está associado a ataques e doenças cardíacas fatais, além de, provavelmente, câncer. Chegar a um nível saudável de consumo de carne vermelha pode ser uma batalha difícil.
Nos Estados Unidos, apenas cerca de 9,6% das mulheres e 22,8% dos homens estudados se encaixaram na categoria de baixo risco (de meia-porção ou menos por dia) para o consumo de carne vermelha. Ao contrário do pensamento popular, uma boa dieta inclui tanto o que ingerimos, quanto o que deixamos de fora do cardápio.
O estudo mostra que a troca de uma porção de carne vermelha por peixe ou frango não só elimina o risco como aumenta a chance de longevidade. A substituição diária de uma porção de carne vermelha por peixe reduz o risco de mortalidade prematura em 7%; para as aves, a redução foi duas vezes maior, 14%.
Os vegetarianos ficam melhor ainda. “Alimentos de origem vegetal são ricos em fitoquímicos, bioflavonóides e outras substâncias protetoras”, escreveu Dean Ornish, defensor da dieta integral em um ensaio relacionado, também publicado segunda-feira no Archives of Internal Medicine. “Assim, substituir carne vermelha por alimentos mais saudáveis traz benefícios em dobro para a saúde.”
Ornish observou que o foco para uma dieta saudável deve estar na qualidade, mais que na quantidade: “porções menores de alimentos bons são mais satisfatórios que porções maiores de alimentos pouco saudáveis”. Além disso, ele destaca sugestões atuais, baseadas em pesquisa, para uma dieta mais saudável:
• Consumir pouca ou nenhuma carne vermelha; obter proteína de aves, peixe, legumes, nozes ou outros produtos.
• Comer muitos carboidratos integrais saudáveis, como cereais integrais, feijão, frutas e legumes.
• Evitar carboidratos pouco processados ou refinados, como farinha branca, açúcar ou glicose de milho.
• Procurar ingerir algumas gorduras saudáveis, como ácidos graxos ômega três, contidos em linhaça e óleo de peixe.
• Limitar as poucas gorduras ruins, como hidrogenadas, gorduras saturadas ou trans.
Outro benefício para a redução do consumo de carne vermelha: diminuição das despesas médicas descontroladas, acrescentou Ornish. Evitar doenças crônicas relacionadas ao excesso de consumo de carne vermelha pode diminuir seriamente os gastos médicos.
(Por Katherine Harmon, Scientific American Brasil, 15/03/2012)