Principal negociador da União Europeia para a Rio+20, o comissário europeu do Ambiente, Janez Potocnik, diz que o bloco está pronto para adotar metas concretas de desenvolvimento sustentável e de economia verde na conferência. Mas avisa: que ninguém venha pedir dinheiro público da UE para implementá-las.
"Não estamos recuando dos nossos compromissos, mas olhar apenas para o setor público não é a resposta", afirmou o comissário, um economista esloveno de 54 anos que está no Brasil participando de uma série de reuniões com membros do governo em preparação para a cúpula do Rio, em junho.
Segundo ele, a economia verde, um dos principais eixos da Rio+20, é algo que diz respeito sobretudo ao setor privado. "Trata-se de criar condições, trata-se de mandar os sinais certos para o mercado", afirmou o comissário à Folha.
"É claro, quando se pergunta como acelerar isso quando se trata de desenvolvimento tecnológico, transferência de conhecimento etc., essas são questões importantes, que precisamos considerar. Mas, quando você fala de economia verde, é praticamente impossível sem falar sobre o papel do setor privado. São eles que praticam a atividade econômica. Nós achamos que, se criarmos as condições adequadas, esses investimentos virão. Mas precisamos criar as condições certas antes e ter muita clareza, e isso precisa de visão política, sobre aonde estamos indo. E isso seria fundamental para atrair o setor privado, especialmente no mundo em desenvolvimento, porque é lá que estão as maiores oportunidades."
Com a economia em frangalhos devido às sucessivas crises, ainda em meio ao caos grego e sem ter afastado o risco de colapso de países como Espanha e Itália -- o que acabaria com o euro -- a UE tem defendido em todos os fóruns internacionais a necessidade de mecanismos financeiros "novos e inovadores" para atacar problemas que vão da mudança climática à conservação da biodiversidade. Em linguagem diplomática, isso significa substituir o fluxo de dinheiro público dos países europeus para o desenvolvimento pos investimentos privados.
Potocnik diz que o bloco não recuará do compromisso, assumido na Declaração do Milênio, em 2000, de destinar 0,7% do PIB à ajuda financeira ao desenvolvimento até 2015. Mas afirma também que aportes dos países emergentes, como China, Índia e Brasil -- a chamada cooperação Sul-Sul -- são cada vez mais importantes. "O munso em 2012 não se enquadra exatamente na situação de 1992. Isso é algo que precisa ser reconhecido pelos nossos parceiros", pondera o comissário.
Mapa do caminho
Potocnik discutiu com o governo brasileiro um documento divulgado na semana passada pelo Conselho Europeu com as intenções de seus 27 membros para o resultado da cúpula. Um dos principais pontos é o estabelecimento de um "roteiro" ou "mapa do caminho " ("roadmap", em inglês) de ações para a economia verde com metas e prazos. Segundo a Folha apurou, o documento foi bem recebido pelo Brasil.
Cinco áreas estão no foco da UE em seu "roteiro": energia sustentável para todos, manejo de terras, oceanos, segurança alimentar e "como integrar horizontalmente tudo isso", nas palavras de Potocnik.
É o que os economistas chamam de "abordagem em matriz". Ele dá um exemplo: "Você não pode atacar a questão da segurança alimentar sem falar do manejo sustentável das terras. Nós produzimos comida para 9 bilhões de pessoas, mas desperdiçamos, então, achamos que usando essa abordagem das metas nós podemos abordar de forma sistemática e construtiva a questão da comida".
A Europa também é a favor dos chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, um conjunto de ações mensuráveis que o governo brasileiro espera que sejam um dos principais resultados da conferência do Rio. Países como os EUA se opõem às metas -- acham que a Rio+20 deve apenas ensejar "processos".
"Sim, nós devemos criar processos de longo prazo, mas, para que esses processos sejam críveis, nós devemos dar já no Rio os primeiros passos claros nessa discussão", afirmou o esloveno.
(Por Claudio Angelo, Folha Online, 16/03/2012)