Aumento pequeno de temperatura derreteria todo o gelo no longo prazo. Elevação de 2ºC, limite sugerido pela ONU, provocaria degelo em 50 mil anos
A cobertura de gelo da Groenlândia está mais sensível ao aquecimento global do que se pensava. Uma elevação relativamente pequena da temperatura no longo prazo derreteria o gelo completamente, segundo estudo publicado na revista "Nature Climate Change", neste domingo (11).
Pesquisas anteriores sugeriram que seria necessário um aquecimento de pelo menos 3,1 º C acima dos níveis pré-industriais, , em uma faixa de 1,9ºC a 5,1º C, para derreter completamente a camada de gelo. Mas novas estimativas estabelecem o limite em 1,6 º C em uma faixa de 0,8 º C a 3,2 º C, embora esta temperatura tenha que ser mantida por dezenas de milhares de anos para apresentar este efeito.
A Groenlândia é, depois da Antártica, a maior reserva de água congelada em terra. Se derreter completamente, provocará uma elevação do nível do mar em 7,2 metros, encharcando deltas e terras baixas.
Segundo o estudo, se o aquecimento global se limitar a 2 º C, uma meta estabelecida em negociações climáticas da ONU, o derretimento completo aconteceria em uma escala de tempo de 50 mil anos.
Acima de 2ºC
As emissões atuais de carbono, no entanto, situam o aquecimento muito além desta meta. Se não forem controladas, um quinto da cobertura de gelo derreteria no prazo de 500 anos. Em 2 mil anos, seria extinta, segundo o estudo.
O estudo foi feito por cientistas do Instituto Postdam de Pesquisa sobre o Impacto do Clima (PIK) e da Universidade Complutense de Madri. Segundo eles, o risco de perda total do gelo parece remota, em vista da imensa escala de tempo, porém alertaram que suas descobertas contestam muitas suposições sobre a estabilidade da cobertura de gelo com relação ao aquecimento no longo prazo.
A atmosfera terrestre já se aqueceu 0,8 º C desde o início da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, e o dióxido de carbono emitido hoje ainda perdurará por séculos. A cobertura de gelo é vulnerável a um tipo de círculo vicioso, também conhecido como "feedback positivo", que impulsiona o derretimento, segundo o artigo.
Derretimento
Chegando a 3.000 metros de espessura em alguns lugares, a cobertura de gelo se beneficia hoje do efeito protetor de altitudes maiores e mais frias. Mas quando derrete, a superfície desce para altitudes mais baixas, com temperaturas mais elevadas, demonstra o modelo de computador.
Além disso, porções de terra expostas pelo gelo absorvem radiação por serem mais escuras e não refletirem a luz. À medida que se aquecem, elas ajudam a derreter o gelo em seus arredores.
"Nosso estudo demonstra que, sob certas condições, o derretimento da cobertura de gelo da Groenlândia se torna irreversível. Isto sustenta a noção de que a cobertura de gelo é um elemento preponderante no sistema terrestre", disse Andrey Ganopolski, cientista do PIK.
"Se a temperatura global superar o limiar significativamente a longo prazo, o gelo continuará a derreter e não se recuperará, mesmo se o clima voltar, após milhares de anos, aos níveis pré-industriais", acrescentou.
(AFP / G1, 11/03/2012)