O Dia Mundial da Água - 22 de março - está próximo, por isso organizações sociais e indígenas peruanas já estão se mobilizando em favor deste bem natural essencial para a manutenção da vida. Neste ano, as comemorações em torno da data serão centradas no conflito recente ocasionado pelo projeto mineiro Conga.
Na data, também serão demandados: defesa e proteção do meio ambiente e das bacias, proibição do uso de cianeto e mercúrio na mineração, segurança alimentar, defesa da biodiversidade, acesso aos serviços públicos de água e saneamento; direito ao trabalho, saúde, educação, alimentação e políticas públicas de inclusão.
No Peru, as populações estão vivendo em constante tensão. Os motivos são as inúmeras atividades extrativas e industriais que ameaçam as cabeceiras de bacia e os sistemas hídricos, e ainda utilizam grande quantidade de água e as contaminam.
O resultado disso é que a população rural e urbana que depende da água retirada de lagos e outras fontes naturais veem o abastecimento, a segurança alimentar, a biodiversidade, e os empregos que dependem da água serem postos em risco.
Em Cajamarca, Celendín e Hualgayoc a luta é contra o Projeto Conga, que tem como intenção extrair ouro e prata e para isso deverá desaparecer com quatro lagoas localizadas nas zonas altas de Cajamarca. De um lado, a população e os governos locais se opõem à atividade extrativa, do outro, o Governo de Ollanta Humala, descumprindo suas promessas eleitorais, e a empresa Yanacocha estão agindo para concretizar o projeto mineiro a qualquer custo.
Para dar um basta nisso, organizações sociais, profissionais e indígenas peruanas estão se unindo para combater a ganância de governos, empresas transnacionais e grupos de poder que estão empenhados em privatizar a gestão dos serviços de água potável e saneamento básico, buscando lucrar cada vez mais lucrar com as necessidades básicas da população.
Em comunicado assinado por sete organizações, seus integrantes chamam "os cidadãos e as organizações sociais de todo o país a celebrarem o Dia Mundial da Água com ações unitárias para demandar que o direito à água tenha importância constitucional, que é indispensável proteger as cabeceiras de bacia frente à ameaça da mineração, que é necessário defender as empresas públicas prestadoras de serviços de água e saneamento contra as estratégias privatistas do governo e das empresas transnacionais”.
Perseguição
A Coordenadora Nacional de Direitos Humanos (CNDH), que integra 79 instituições defensoras dos DH, tornou público seu repúdio à detenção de líderes cajamarquinos que estiveram à frente da Marcha pela Água, realizada de 1º a 10 de fevereiro com o objetivo de defender este recurso natural e repudiar o Projeto Conga.
Nesta terça (13), Wilfredo Saavedra, presidente da Frente de Defesa Ambiental de Cajamarca, Luís Díaz Chávez, do Sindicato Unitário de Trabalhadores na Educação do Peru (Sutep) e César Aníbal Tafur Tacilla, secretário Provincial de Construção Civil foram detidos, mas em virtude da pressão popular foram liberados.
Apesar disso, está sendo realizada uma investigação preliminar pelo delito de perturbação dos meios de transporte. A investigação também envolve outros ambientalistas, engenheiros, autoridades locais e sindicalistas participantes da Marcha pela Água. Para a CNDH, o intuito da investigação é coibir os protestos sociais e intimidar a população para que não demande seus direitos.
Projeto Conga
O Projeto Conga da transnacional Newmont-Buenaventura-IFC (Mineira Yanacocha) vem causando transtornos à população de Cajamarca desde o ano passado, isto porque o projeto de exploração de cobre e ouro deve desaparecer com quatro lagoas localizadas nas zonas altas de Cajamarca e causar danos ambientais irreparáveis à região. A população local teme uma emergência hídrica, já que boa parte da água utilizada vem destas lagoas, localizadas nas cabeceiras de bacia.
A aprovação do estudo de impacto ambiental foi um dos estopins das manifestações ocorridas em 2011, pois este, mesmo tendo sido questionado pelo governo federal, foi aprovado, descumprindo a lei peruana que assinala que lagoas altandinas, bofedales (zonas alagadas altandinas) e geleiras são ecossistemas frágeis e que podem sofrer grandes efeitos com qualquer intervenção.
(Por Natasha Pitts, Adital, 16/03/2012)