Oito meses depois de seu desembarque do Partido Verde, a ex-senadora Marina Silva e seu grupo político não conseguiram dar rumo ao que chamaram de "movimento por uma nova política". A falta de posicionamento da ex-senadora a tem deixado de fora das conversas para a eleição municipal e sem palanques para defender a bandeira da sustentabilidade, que lhe rendeu 20 milhões de votos como uma "terceira via" para presidente em 2010.
Seu movimento já sofreu algumas baixas de parlamentares que permaneceram no PV ou figuras públicas que se desiludiram com a política. O resultado é que os "sonháticos", como ela os definiu em comparação aos políticos pragmáticos, devem ter sua influência nas eleições de 2012 restrita a três prováveis candidaturas à vereança em São Paulo, Recife e Belo Horizonte e uma ainda incerta à Prefeitura do Rio.
"Hoje você vai encontrar no movimento pessoas determinadas a criar um novo partido, outros que acham que deve apenas ter alguns quadros na política em diferentes partidos e, por fim, os que pensam que não devemos participar da política partidária e eleitoral, mas atuar via sociedade civil organizada", explica o empresário Ricardo Young, quarto colocado na eleição paulista ao Senado - com 4,1 milhões de votos.
Young está no grupo dos que pregam a criação de um novo partido, "livre do caciquismo e que em seu estatuto preveja mecanismos de democracia participativa na escolha de membros dos diretórios".
O pré-requisito tem motivo: o catalisador da saída de Marina e seus aliados do PV, afirma, foi a resistência de José Luiz Penna, presidente da sigla há 12 anos, em mudar o modelo de indicação de seus representantes Brasil afora. Os diretórios municipais do PV são indicados pelas instâncias estaduais, por sua vez indicadas pela executiva nacional, dando a Penna o controle sobre todas as esferas do partido.
Os quatro "marineiros" que podem ir às urnas estão neste grupo. Young se filiou ao PPS e encabeçará a chapa de vereadores da legenda em São Paulo. O ex-deputado federal José Fernando Aparecido, terceiro colocado na eleição ao governo de Minas Gerais em 2010, também migrou para o PPS e a avalia candidatura a vereador, mais provável, ou a prefeito em Belo Horizonte.
Já Sérgio Xavier, derrotado na disputa em Pernambuco, aderiu ao governo de Eduardo Campos (PSB) e se tornou seu secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Um dos fundadores do PV, Xavier manteve-se no partido e diz que a tendência é continuar no cargo, embora não descarte concorrer à vereança.
Também do PV, a deputada estadual Aspásia Camargo estuda concorrer à Prefeitura do Rio, mas o partido ainda não definiu a postura para a eleição. Embora não seja propriamente um "marineiro", o ex-deputado federal Raul Jungman (PPS) pode contar com o apoio da amiga Marina Silva na intenção de concorrer à Prefeitura do Recife.
Ele tenta frente de oposição contra o PT, que administra a cidade, mas esbarra na vontade de DEM e PMDB de terem seus próprios candidatos.
O movimento, que não tem coordenação nacional e sobrevive em comunidades nas redes sociais, ainda não fez planejamento eleitoral nem definiu quando fará. "Estamos em processo de construção, quem precisa de apoio dos candidatos somos nós", argumenta Bazileu Margarido, que foi presidente do Ibama na época em que Marina era ministra de Meio Ambiente.
A demora da iniciativa fez com que outros personagens tomassem a frente da bandeira do desenvolvimento sustentável. A Rede Nossa São Paulo, que reúne entidades da capital paulista, elaborou um protocolo de intenções para os candidatos a prefeito de todo o país adotarem como metas de seus mandatos. O Programa Cidades Sustentáveis já recebeu a adesão de 143 candidatos e de 36 diretórios municipais de partidos, sem que Marina tivesse qualquer papel nisso.
A eleição municipal antecipa e forma a base de prefeitos e vereadores para a disputa pela Presidência, dois anos depois. Marina e o Nova Política, porém, têm ficado a margem desse processo.
"Estamos muito atrasados na identificação e definição de candidaturas, nas médias e grandes cidades, que defendam a sustentabilidade. A eleição de 2012 é fundamental para a Marina e para esse movimento não se dispersar", avalia Raul Jungman. Ele defende a formação de um partido com o argumento de que as ideias do grupo "tem maioria na sociedade, mas são minoria no Congresso".
Já Sérgio Xavier acredita que o movimento ainda tem tempo para construir um consenso. "As convenções só ocorrerão em junho, muitos candidatos ainda não estão definidos. Tenho a percepção de que devemos fazer uma lista verde ou da nova política, em que o movimento recomendasse candidatos", afirma.
Marina Silva estaria, segundo Young, entre os que acreditam em um movimento de caráter suprapartidário. "Até nossas últimas conversas, era o caminho que Marina achava mais correto, mas a criação de um partido também era considerada por ela", conta. O Valor tenta há duas semanas ouvir a ex-senadora, mas, segundo sua assessoria, ela cumpre uma intensa agenda de reuniões e não poderia falar a respeito.
Essa agenda atribulada também tem imposto dificuldades ao grupo, ou, como preferem, aos "coletivos" que se reúnem apenas em acontecimentos pontuais, como por conta da votação do novo Código Florestal no Congresso. "De mais formal, tem os coletivos estaduais. No Fórum Social de Porto Alegre (RS) se lançou o coletivo gaúcho. Antes havia sido o coletivo mineiro, agora tem o cearense", diz Young.
Até a montagem do movimento no país está atrasada. Em entrevistas, articuladores do grupo diziam que a meta era organizar "coletivos" em nove Estados até o fim de 2011. Agora, em março de 2012, o movimento foi lançado apenas em São Paulo, Minas Gerais, Brasília e Rio Grande do Sul. E ainda está se estruturando no Ceará, Pernambuco e Maranhão.
Desiludidos dos rumos da política institucional, a juventude ligada ao Movimento Marina Silva, que atuou na campanha presidencial e a ajudou a angariar quase 20 milhões de votos na disputa, é a ala mais resistentes à criação de um partido.
"Jovens tem receio, totalmente justificado, da cooptação partidária. Por isso eles preferem explorar novos mecanismos para fazer política, ao invés de se submeter a esse sistema", opina Young. "Mas não podemos minimizar a importância da política institucional. Ela toma decisões. Estamos vendo isso agora com o Código Florestal e a Lei da Copa. Na hora do vamos ver, você precisa ter gente nossa lá", continua.
Alguns nomes emblemáticos da campanha de Marina ficaram pelo caminho. O empresário Guilherme Leal, vice na chapa presidencial, apoia o movimento, mas diz não querer ser mais candidato, mesma posição do ex-deputado federal Fábio Feldmann, que concorreu ao governo de São Paulo para ajudar a ex-senadora.
Do grupo de 12 candidatos ao governo que a apoiaram em 2010, apenas quatro a seguiram no movimento. Coordenador da campanha presidencial, o ex-deputado federal Luciano Zica se afastou da vida partidária e dos "marineiros".
Segundo colocado na eleição para o governo do Rio em 2010, o ex-deputado federal Fernando Gabeira permanece filiado ao PV, mas também diz ter abandonado a vida política. Ele voltou ao jornalismo e, apesar de manter contato com Marina, não faz parte do movimento. "Sinceramente, não vejo grandes horizontes para um novo partido. Acabaria reproduzindo os mesmos problemas lá na frente e igual aos que já existem", diz.
(Por Vandson Lima e Raphael Di Cunto, Valor Econômico / IHU On-Line, 19/03/2012)